Dezenas de manifestantes foram detidos e concentrações contra a reforma do sistema judicial em Israel foram reprimidas, nesta quinta-feira, em cidades como Telavive e Jerusalém, horas depois de o presidente israelita, Isaac Herzog, advertir que o país está "próximo de uma guerra civil" que fará "correr sangue nas ruas".
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"Quem pense que uma real guerra civil, com perda de vidas humanas, é uma linha que não vamos transpor, não faz ideia", disse Herzog, numa comunicação, via televisão, na noite de quarta-feira, apresentando uma proposta para travar o projeto contestado nas ruas há dez semanas.
"O abismo está aos nossos pés", avisou o presidente, cuja proposta de solução - "Diretriz popular para a reforma do sistema judicial" - foi liminarmente rejeitada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, do Likud, que lidera uma coligação com ultradireitistas e ultraortodoxos.
Em causa está um projecto aprovado em primeira leitura na segunda-feira no Knesset (Parlamento), com 61 votos a favor e 52 contra, mas contestado com sucessivas manifestações, por pôr em causa a separação de poderes e a independência dos tribunais, basilares num Estado de Direito democrático.
Uma das normas permite o controlo da nomeação dos juízes, incluindo os do Supremo Tribunal, pelo Governo, e limitar a sua capacidade de anular leis que violem a Constituição, que o Parlamento poderá repor.
Livrar Netanyahu
Outra revê as condições de recusa do cargo de primeiro-ministro, o que servirá para evitar que Netanyahu seja suspenso no âmbito dos processos judiciais por fraude, abuso de confiança e aceitação de subornos. A procuradora-geral já avisou que a participação do chefe do Executivo na discussão da lei constitui um conflito de interesses.
A contestação é tal que, além de magistrados, juristas, intelectuais e cientistas, até militares - sobretudo reservistas - participam nas manifestações como as de ontem, que juntaram milhares de pessoas em centena e meia de locais.
Segundo o jornal "Haaretz", centenas de oficiais e soldados de unidades de ciberinteligência do Exército anunciaram um boicote, até "que se restaure a democracia". O ex-ministro da Defesa e líder do partido Unidade Nacional, Benjamin Ganz, pediu a Netanyahu que aja rapidamente para "evitar uma guerra civil".
Os acontecimentos estão a ter repercussões diplomáticas, a tal ponto que o chanceler alemão, Olaf Scholz, expressou a sua "grande preocupação" com o debate que acompanha "muito de perto".
Recebendo Netanyahu em Berlim, disse confiar que Israel "continue a ser uma democracia liberal". O convidado retorquiu que "continuará a sê-lo" e que as reformas apenas visam "corrigir" os atuais "desequilíbrios".
Milhares de intelectuais israelitas tinham dirigido apelos à Alemanha e ao Reino Unido (onde o líder israelita vai na próxima semana) pedindo o cancelamento dos convites.