Presidente libanês quer inquérito que revele "toda a verdade" sobre explosão em Beirute
O presidente do Líbano, Michel Aoun, exigiu esta quinta-feira que se revele "toda a verdade" sobre a violenta e mortífera explosão que há dois anos devastou o porto de Beirute e que provocou mais de 215 mortes.
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"Dois anos depois da tragédia de 4 de agosto de 2020, partilho o pesar das famílias das vítimas e dos feridos, assim como às famílias dos detidos", escreveu Michel Aoun na sua conta pessoal na rede social Twitter, citado pela agência noticiosa Europa Press.
"Comprometo-me a fazer justiça com a revelação de toda a verdade através de um processo judicial imparcial que irá até ao fim, longe de qualquer fraude ou injustiça", afirmou.
O presidente libanês defendeu que este processo é necessário para que todos os que estão envolvidos "sejam responsabilizados".
"Ninguém está acima da lei", frisou o chefe de Estado libanês, numa altura em que são muitas as denúncias de familiares das vítimas sobre um bloqueio político à investigação da explosão.
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A explosão de 4 de agosto de 2020, que as autoridades libanesas têm atribuído a um incêndio num depósito no porto de Beirute onde se encontravam armazenadas cerca de 2750 toneladas de nitrato de amónio, provocou mais de 215 mortos e cerca de 6500 feridos, deixou mais de 300 mil pessoas desalojadas e fez mais de duas dezenas de desaparecidos.
Também o movimento xiita libanês pró-iraniano Hezbollah exigiu a realização de uma investigação "justa", sublinhando que o Líbano e a respetiva população "ainda estão a sofrer com a tragédia nacional" que "golpeou o coração" do país.
"O Hezbollah renova as profundas condolências às famílias dos mártires, independentemente da crença e nacionalidade, e transmite a sincera solidariedade aos feridos e àqueles cujas propriedades foram danificadas", referiu o movimento que, nas eleições legislativas de maio desde ano, perdeu a maioria no parlamento.
Nesse sentido, o Hezbollah denunciou a existência de "enormes campanhas políticas e mediáticas" realizadas nos últimos dois anos e criticou as "acusações infundadas" feitas contra o grupo, que "geram tensões locais e que levaram o Líbano à beira de uma perigosa instabilidade".
"Exigimos uma investigação justa e transparente, de acordo com as normas legais básicas, longe de qualquer politização, duplicidade de critérios e instigação sectária. Acreditamos que só a justiça pode acalmar as almas e consolidar a estabilidade no país" afirmou o Hezbollah, citado pela cadeia de televisão libanesa Al Manar, ligada ao movimento.
Investigação suspensa
A investigação da tragédia está suspensa desde dezembro passado, na sequência da última das mais de 25 petições apresentadas por ex-responsáveis de altos cargos que são suspeitos no processo contra o juiz encarregado da investigação, cujo trabalho tem enfrentado recorrentes obstruções, segundo várias organizações de direitos humanos.
Organizações humanitárias e familiares das vítimas querem que seja feita uma investigação internacional, dada a falta de progressos da justiça libanesa e pediram ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que envie uma missão de investigação para Beirute.