O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, acusou, esta segunda-feira, a agência antidroga norte-americana (DEA) de se infiltrar no Cartel de Sinaloa sem a autorização das autoridades mexicanas.
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Questionado sobre o anúncio do Departamento de Justiça dos Estados Unidos das acusações contra líderes do Cartel de Sinaloa, incluindo quatro filhos de Joaquín "el Chapo" Guzmán, por tráfico de fentanil e outras drogas, o Presidente assegurou que a DEA iniciou a investigação no México sem informar o Governo local.
Embora Washington tenha apontado esta sexta-feira que o cartel de Sinaloa lidera "a maior e mais prolífica operação de tráfico de fentanil do mundo", López Obrador reiterou, em conferência de imprensa, que esta droga não é produzida no seu país. "Essa é a visão deles, nós respeitamos isso. Temos argumentado, primeiro, que o fentanil não é produzido no México, que é importado da Ásia e chega ao México, aos EUA e ao Canadá, desde a Ásia", insistiu.
López Obrador garantiu que as autoridades mexicanas vão cooperar com as autoridades dos Estados Unidos "por amizade, por cooperação", mas sublinhou que o mais importante é que seja "garantida a segurança pública do México". "Para ser mais claro: o que queremos é que ninguém perca a vida no México, que ninguém seja sequestrado, que não haja extorsão, nem roubos, nem feminicídios, essa é a primeira coisa, essa é a nossa responsabilidade fundamental e, em segundo plano, ajudar, cooperar com o Governo dos Estados Unidos", especificou.
O chefe de Estado mexicano referiu ainda que é necessário "observar o que está a acontecer no Sinaloa ou no México, mas também o que está a acontecer lá [nos Estados Unidos], os cartéis que lá estão".
Para Obrador, é importante enfrentar o problema do uso de drogas nos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito ao uso do fentanil, que está a causar a morte de muitos norte-americanos, mas esclareceu que isso será apenas uma questão de cooperação. "Cooperação sim, submissão não. Como o México é um país livre, independente e soberano, felizmente o Governo dos Estados Unidos está a entender isso cada vez mais, especialmente o Presidente [Joe] Biden, que agiu com muito respeito", frisou.
O Departamento de Justiça dos EUA indiciou esta sexta-feira 28 membros do poderoso cartel de Sinaloa, incluindo os filhos do conhecido narcotraficante mexicano Joaquín "El chapo" Guzmán, conhecidos como "Chapitos" ou "pequenos Chapos", que possuem a reputação de formarem a fação mais agressiva e violenta do cartel, na sequência de uma ampla investigação sobre o tráfico de fentanil.
As acusações foram dirigidas a líderes de cartéis, a alegados fornecedores de componentes químicos, responsáveis por laboratórios, traficantes do analgésico opióide fentanil, membros dos serviços de segurança privados, financiadores e traficantes de armas.
Estas medidas também abrangem cidadãos chineses e guatemaltecos acusados de fornecerem os produtos químicos necessários para produzir o fentanil. Outras acusações também se dirigem a responsáveis pelo funcionamento dos laboratórios clandestinos e aos serviços de segurança e aos fornecedores de armamento para as operações de tráfico de droga, acrescentaram os procuradores.
Cerca de 107 mil norte-americanos morreram por 'overdose' de drogas em 2021. A DEA disse que a maioria do fetanil traficado para os Estados Unidos foi proveniente do cartel de Sinaloa.
"EL Chapo" foi condenado a prisão perpétua em 2019 por dirigir uma operação de tráfico em larga escala e está detido num estabelecimento de alta segurança do estado norte-americano do Colorado. No seu julgamento, os procuradores indicarem que diversas provas reunidas desde a década de 1980 demonstravam que o seu cartel garantiu milhares de milhões de dólares ao traficar toneladas de cocaína, heroína, metadona e marijuana para os Estados Unidos.