A Extrema-Direita saiu derrotada das eleições holandesas desta quarta-feira. O atual primeiro-ministro, Mark Rutte, consegue pelo menos 31 assentos parlamentares, em 150. E deve seguir em coligação
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Se tivesse sido por dois votos, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (PVV), de Extrema-Direita, poderia culpar a mãe e o irmão pela derrota nas eleições legislativas holandesas desta quarta-feira. Como o atual primeiro-ministro, Mark Rutte, do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD, de Direita), obteve, segundo sondagens à boca das urnas, 31 dos 150 assentos parlamentares, o drama familiar ficará para depois. Outro grande perdedor é o Partido Socialista, que registou os resultados mais modestos de sempre.
Os holandeses foram a votos numas eleições parlamentares dominadas pela popularidade da Extrema-Direita eurocética e xenófoba e pelo conflito diplomático com a Turquia.
Uma luta entre 28 partidos
A Direita, encabeçada por Rutte, liderava as intenções de voto, mas com escassa vantagem sobre Wilders - cujo PVV conseguiu 19 lugares no Parlamento -, que alguns estudos de opinião admitiam poder acabar em primeiro lugar.
De qualquer forma, mesmo que tivesse vencido, a face da Extrema-Direita não deveria tornar-se primeiro-ministro, dado o sistema de representação proporcional nos 150 lugares da câmara baixa do Parlamento e a recusa de todos os principais partidos em participar numa coligação com Wilders.
Assim, tudo indica que o próximo Executivo será baseado numa coligação com pelo menos três forças políticas.
Vinte e oito partidos concorreram à eleição, entre os quais os democratas-cristãos (19 deputados), os liberais pró-europeus D66 (também 19) e a Esquerda Verde (16) tinham, igualmente, uma palavra a dizer. As "suspeitas" confirmaram-se.
O Governo de Rutte, eleito em 2012, aplicou pacotes de austeridade muito impopulares, mas os sinais de retoma económica e a baixa do desemprego serviram-lhe de argumentos para pedir aos eleitores para manter a confiança no VVD.
"A escolha é simples: é entre o caos e a continuidade", dizia o primeiro-ministro durante a campanha, identificando o caos com o PVV, que se propunha tirar o país da União Europeia, fechar as fronteiras à imigração muçulmana, encerrar as mesquitas e banir o Corão. "Tornar os holandeses donos do seu país novamente", prometia Wilders.
Assim, a eleição holandesa era vista pelos analistas como um importante indicador do comportamento dos eleitores quanto aos movimentos populistas, depois do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia - o Brexit - e da eleição de Donald Trump para a Casa Branca, nos Estados Unidos, e a poucas semanas das presidenciais em França (abril e maio) e das legislativas na Alemanha, em setembro.
Por outro lado, a derradeira semana da campanha ficou marcada por uma crise diplomática com a Turquia, devido à recusa da Holanda em permitir que dois ministros turcos participassem em comícios junto da comunidade turca pelo "sim" no referendo que vai reforçar os poderes do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.