O primeiro-ministro iraquiano cessante Nuri al-Maliki aceitou ceder o poder, sob a pressão da comunidade internacional, que pretende ver um novo governo capaz de travar a ofensiva 'jihadista' e a crise humanitária que criou.
Corpo do artigo
Para ajudar a travar o avanço dos 'jihadistas' do Estado Islâmico (EI), no norte do país, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE estão reunidos, em Bruxelas, para reforçar o apoio militar aos combatentes curdos.
O Conselho de Segurança da ONU deverá também votar medidas para cortar as vias de abastecimento dos 'jihadistas' no Iraque e na Síria vizinha, palco de uma guerra civil e onde o EI ocupa também várias regiões.
Depois de Washington que os ataques contra as posições 'jihadistas' salvaram a vida dos deslocados yazidis e cristãos, as organizações humanitárias tentavam medir o desastre causado pela fuga de centenas de milhares de iraquianos de suas casas, perante a fuga das milícias islâmicas.
Mesmo com a saída contestada de Al-Maliki, que deu já o seu apoio ao sucessor Haidar al-Abadi, vários observadores afirmaram recear que as mudanças necessárias para conciliar as diferentes forças políticas, num país minado pelas divisões confessionais, não sejam realizadas.
Na quinta-feira à noite, ao fim de quatro dias em que contestou a nomeação de Abadi, Al-Maliki decidiu renunciar candidatar-se a um terceiro mandato, depois de perder o apoio dos aliados norte-americano e iraniano, de membros do seu bloco xiita e da mais alta autoridade religiosa xiita do país.
"Anuncio a retirada da minha candidatura, a favor do irmão Haidar al-Abadi", disse, num comunicado transmitido pela televisão. Ao seu lado estava Al-Abadi, também membro do partido Dawa.
Al-Maliki explicou que procurava, com esta decisão, "facilitar a formação de um novo governo", e aproveitou para defender o balanço de oito anos no poder.
Opositores e aliados acusaram o primeiro-ministro iraquiano cessante de ter alimentado o caos, especialmente o surgimento das forças rebeldes sunitas, ao prosseguir uma política autoritária, de exclusão da minoria sunita, num país de maioria xiita.
Na ofensiva, os 'jihadistas' tomaram uma grande parte dos redutos sunitas, muitas vezes com o apoio de elementos radicais da comunidade sunita, que dirigiu o Iraque durante décadas, antes de o antigo presidente Saddam Hussein ter sido derrubado do poder, na sequência da invasão norte-americana, em 2003.
A decisão de Nuri al-Maliki foi considerada "um grande passo em frente" pelos Estados Unidos e de "passo histórico" pela ONU.
Desde 9 de junho, o EI conquistou zonas do território a norte, a oeste e a leste de Bagdad, perante a retirada das forças armadas iraquianas.
Fortalecido pelo êxito militar no Iraque e na Síria, o movimento proclamou a criação de um "califado" entre os dois países, nas zonas que controla e nas quais é acusado de perseguir as minorias, de realizar execuções sumárias e violações.
Há um dezenas de dias, este grupo fundamentalista islâmico avançou na direção da região autónoma, e relativamente calma, do Curdistão iraquiano, pondo em fuga dezenas de milhares de membros das minorias cristã e yazidi (curda e não muçulmana).
As forças curdas tentam, sem grande êxito, travar o avanço do EI.
Os Estados Unidos lançaram, a partir de 8 de agosto, ataques aéreos diários no norte do país, na primeira ação militar no Iraque, desde a retirada das tropas norte-americanas no final de 2011.
Washington enviou também armas aos combatentes curdos.
Na quinta-feira, o presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou que "o cerco do EI tinha sido destruído" nos montes Sinjar, onde se encontravam entre quatro e cinco mil deslocados yazidis.
Milhares de refugiados estão instalados, em condições muito precárias, em campos no Curdistão ou na fronteira síria, sem esperança de um rápido regresso a casa.