
O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse, esta quarta-feira, que a Itália corre "um risco fatal e irremediável" se o Governo cair e insistiu para que as decisões da justiça sejam "aplicadas", numa alusão aos processos judiciais de Silvio Berlusconi.
"Itália corre um risco fatal, que depende de um sim ou um não. Convido-vos a darem um exemplo de coesão", afirmou o primeiro-ministro perante o senado.
O primeiro-ministro italiano irá pedir hoje um voto de confiança ao parlamento após a crise política aberta no sábado com a demissão de cinco ministros do partido de Berlusconi, que sustentava a coligação governamental.
Numa alusão ao magnata da comunicação social italiano Silvio Berlusconi, de 77 anos, Letta afirmou que "num país democrático, as decisões da justiça [deveriam] ser aplicadas" e que "as questões judiciais devem estar dissociadas da política".
Segundo vários especialistas, Berlusconi foi o principal responsável pela crise política iniciada na semana passada por recear a perda, até meados de outubro, do seu lugar de senador que lhe garante imunidade parlamentar.
Berlusconi foi condenado em última instância a 1 de agosto a uma pena de prisão por fraude fiscal.
O chefe do Governo de coligação recordou que, há cinco meses, o Presidente da República, Giorgio Napolitano, depois de ser eleito pela segunda vez para o cargo, pediu responsabilidade, respostas verdadeiras aos italianos e dignidade das forças políticas.
Letta assegurou que, nestes meses, o Governo de coligação trabalhou "com espírito construtivo e deu passos em frente na compreensão recíproca das forças políticas, pensando apenas no interesse dos italianos".
Sobre como se chegou a esta situação, Letta sublinhou que as decisões da Junta de Eleições e de Imunidade, que trata da expulsão de Berlusconi após a sua condenação por fraude fiscal, "condicionou o debate público".
Lamentou ainda que o anúncio de demissão dos parlamentares do PDL em caso de expulsão de Berlusconi lhe tenha chegado quando falava de Itália na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Sublinhou que "os assuntos judiciais e os trabalhos do parlamento não podem ser sobrepostos" e acrescentou que, ainda que todos os cidadãos tenham o direito a defender-se, "num Estado democrático as sentenças respeitam-se e aplicam-se".
Para Letta, "este Governo pode continuar vivo e a fazer coisas boas com um novo pacto", numa referência à possibilidade de uma nova maioria que poderá ser conseguida depois de aprovado um voto de confiança.
O primeiro-ministro adiantou que nos últimos cinco meses foram adotadas medidas importantes para relançar a economia e a credibilidade de Itália e assegurou que em 12 meses existem condições para terminar as reformas programadas.
Para Letta, só com a estabilidade do Governo se poderão respeitar os compromissos assumidos com a União Europeia para 2014, nomeadamente a manter o défice das contas públicas abaixo dos 3%.
O primeiro-ministro italiano enumerou depois a próximas medidas previstas pelo Governo e assegurou que "não haverá mais impostos" e que trabalhará para reduzir "os impostos sobre o trabalho", prometendo ainda uma revisão das taxas de IVA.
A questão do IVA é um dos cavalos de batalha de Berlusconi, que justificou a demissão dos seus ministros com o facto de o Governo não ter impedido a subida do IVA de 22 para 23 por cento desde 01 de outubro.
