Professora e alunos julgados por assédio em caso de suicídio de criança em França
Uma professora e dois adolescentes vão ser julgados por assédio moral, em França, no processo em torno da morte de uma criança de 11 anos, que se suicidou por enforcamento, em 2019.
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As duas ideias juntas parecem não bater certo, mas a frase constata o que aconteceu no dia 21 de junho de 2019: Evaëlle Dupuis tinha 11 anos quando pôs fim à vida. A criança tinha sido, saber-se-ia mais tarde, vítima de bullying na escola privada onde estudava, em Herblay, no departamento francês de Val-d'Oise, e enforcou-se na chegada a casa.
O caso acabou por dar origem à abertura de um processo judicial que se tem arrastado e, cinco anos mais tarde, há agora uma decisão. De acordo com o jornal francês "Le Monde", a juíza de instrução criminal responsável decidiu levar a julgamento uma professora e dois jovens de 16 anos.
Pascale B., ex-professora de francês de Evaëlle, vai ser julgada pelo crime de "assédio moral de menor de 15 anos" sobre a vítima, tendo ainda, por decisão judicial, sido demitida da escola. Os dois adolescentes, ex-alunos do colégio de Isabelle-Autissier, que a vítima frequentava, foram encaminhados, sob a mesma acusação, para o Tribunal de Menores, dado que tinham 13 anos na altura dos factos.
A advogada dos pais da vítima, Delphine Meillet, sublinhou o "caráter excecional e histórico da ordem de demissão a uma professora experiente por assédio moral sobre um aluno". "As razões do suicídio desta criança encontram-se no comportamento desta professora", comentou, citada pelo diário francês. Por seu turno, a defesa da docente, que ingressou no ensino em 1987 e que está agora proibida de dar aulas a menores, diz que o papel da arguida na morte da criança está "completamente descartado" e que isso mesmo será explicado ao tribunal de primeira instância.
Num documento de 45 páginas, o Ministério Público acusa a docente de ter sido "insensível ao desconforto do aluno", por "não ter gostado" de Evaëlle logo no início do ano letivo, em setembro de 2018. E aponta que as acusações de assédio contra a docente são "corroboradas" por "quase todos os alunos" da turma.