Embora não obrigatório, DGS recomenda que profissionais de saúde que prestem cuidados diretos aos doentes de COVID-19 removam a barba. Medida destina-se sobretudo a quem têm de usar respiradores N95 ou FFP2.
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A questão sobre manter ou remover a barba tem sido abordada por várias entidades mundiais e europeias, mas parece mais complexa do que parece.
No entanto, atendendo à falta de estudos que atestem que o vírus se possa instalar nos pelos, a remoção só estará recomendada a profissionais de saúde, e não à população em geral. Isto porque, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), "os pelos faciais podem impedir a formação da selagem impenetrável necessária."
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Por isso, as autoridades de saúde norte-americanas recomendaram aos profissionais que antes de usarem os respiradores N95 ou FFP2 retirassem, primeiro, a barba.
Ao JN, a Direção-Geral de Saúde (DGS) esclarece que, em Portugal, "não existe ainda nenhuma orientação que obrigue a cortar a barba para poder usar máscara ou respirador."
No entanto, acrescenta que "os profissionais de saúde que estão na linha da frente na prestação de cuidados diretos aos doentes de COVID-19 devem remover a barba", precisamente para seja eficiente a máscara na proteção contra o vírus.
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Eric Cioe Peña, diretor de saúde global da Northwell Health, em New Hyde Park, Nova Iorque, explica que "a barba sob a borda da máscara quebra a selagem necessária à face e torna-a inútil".
Também António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de São João, reforça ao JN que, "teoricamente, pode ser mais difícil obter uma selagem (adaptação facial) eficaz da máscara colocada sobre certos tipos de barba", desconhecendo, no entanto, algum estudo que tenha demonstrado que "estas pessoas se infetem mais".
O CDC admite no entanto que, ao contrário dos respiradores N95 [ou FFP2], as máscaras cirúrgicas não exigem um barbear rente.
Questões culturais e religiosas?
Num artigo de março da BJM, uma das revistas médicas mais influentes e lidas do mundo, a questão também é discutida. "Pragmaticamente, os primeiros passos devem ser voluntários - deve ser feito um pedido para que os médicos removam as barbas, com os motivos, tendo em mente as questões de justiça e igualdade."
A publicação equaciona ainda se existe equipamento de proteção alternativo disponível em quantidade suficiente para os profissionais de saúde que usam barbas por motivos religiosos. "Os médicos teriam a obrigação comum de remover a barba, embora obviamente não possam ser forçados."
Pelo sim, pelo não...
Seja como for, o simples barbear não pode nem deve ser entendido como uma medida de substituição às principais medidas preventivas recomendadas, devendo, por isso, evitar-se o toque no nariz, olhos e boca, proceder-se à lavagem das mãos com frequência e a uma adequada etiqueta respiratória.