Três semanas depois, a Ucrânia e a Rússia voltaram a reunir-se, presencialmente, para chegar àquele que aparenta ser o maior avanço até agora nas negociações. O Kremlin anunciou uma redução "radical" de atividade militar perto de Kiev e Chernihiv, enquanto Zelensky admitiu adotar uma posição de neutralidade permanente em troca de garantias de segurança. No entanto as dúvidas prevalecem quanto às verdadeiras intenções de Moscovo.
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- A Ucrânia propôs, esta segunda-feira, adotar uma posição de neutralidade permanente em troca de garantias de segurança que prevejam, além de um cessar-fogo, um tratado internacional assinado por vários países. "A chave é o acordo sobre garantias de segurança internacional para a Ucrânia. Só com este acordo podemos acabar com a guerra como a Ucrânia precisa", assegurou o negociador Mykhailo Podolyak. Moscovo recusou a proposta, no entanto Putin reconheceu o "progresso" das negociações, ainda que não esteja disposto a desistir dos seus objetivos militares na Ucrânia, em particular em Mariupol, recusando-se a levantar o cerco daquela cidade.
- A Rússia anunciou uma redução "radical" de atividade militar perto de Kiev e Chernihiv, após conversas "substanciais" russo-ucranianas em Istambul. Tanto os EUA como o Reino Unido confirmaram a retirada de algumas tropas russas da capital ucraniana, ainda que com dúvidas quanto às verdadeiras intenções de Putin. "Existe o que a Rússia diz e o que a Rússia faz. Nós vamos concentrar-nos no que faz", disse o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, destacando que os ucranianos estão a negociar "literalmente com uma arma apontada à cabeça".
First signs that some Russian troops are indeed retreating from the Kyiv direction. Large numbers of BMDs with Russian and VDV flags were spotted today on their way from the Ukrainian border to Belarus' Rechitsa and Gomel where they were loaded onto railway platforms. pic.twitter.com/6B5qTsgFRq
- Tadeusz Giczan (@TadeuszGiczan) March 29, 2022
- Pelo menos sete pessoas morreram e 22 ficaram feridas num ataque russo que destruiu parcialmente o edifício da administração regional em Mykolaiv, cidade que tinha sido poupada dos bombardeamentos nos últimos dias, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
- Após as suspeitas de envenenamento de Abramovich e outros três negociadores ucranianos, o Kremlin rejeitou as acusações e garantiu que fazem "parte da guerra de informação". "Isso faz parte do pânico da informação, da sabotagem da informação, da guerra da informação. Esses relatos não são verdadeiros... é necessário filtrar fortemente o fluxo de informações", considerou Dmitry Peskov, citado pelo "The Guardian". Roman Abramovich esteve presente nas negociações que decorreram hoje entre Kiev e Moscovo.
- O Governo ucraniano está a investigar alegações de tortura a prisioneiros de guerra russos na sequência da divulgação de um vídeo. Kiev questiona a veracidade das imagens mas garante que vão "castigar" quem maltratar prisioneiros de guerra e pediram à Rússia o mesmo procedimento, nas conversações de hoje.
- A Bélgica, os Países Baixos e a Irlanda anunciaram hoje a expulsão de um total de 42 diplomatas russos dos seus países por alegado envolvimento em atividades de espionagem e violação das regras da diplomacia internacional.
- Os Estados Unidos da América estão empenhados em continuar a adotar medidas contra a Rússia, dirigidas a setores-chave da indústria, para garantir que o financiamento à "máquina de guerra" na Ucrânia é travado. Já o Kremlin insistiu que a Europa terá de pagar o gás russo em rublos, rejeitando críticas do G7, numa altura em que os países ocidentais e Moscovo multiplicam sanções e contra sanções.
- O Kremlin negou que o exército esteja a remover à força civis desde Mariupol para a Rússia, após denúncias de Kiev que acusam as tropas russas de transferir milhares de ucranianos para o seu país. "Garanto que isso é mentira. Isso não corresponde à realidade", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, numa conferência de imprensa, sublinhando que "a Rússia não se envolve em tais coisas". Num discurso ao Parlamento dinamarquês, Zelensky considerou os ataques a Mariupol um "crime contra a humanidade".
Dados
- O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) já contabilizou 3 901 713 refugiados ucranianos e este número poderá ultrapassar os quatro milhões nos próximos dias, segundo os dados disponibilizados hoje no portal oficial na internet do organismo.
- Portugal já concedeu mais de 24 mil pedidos de proteção temporária a cidadãos ucranianos e a estrangeiros que residem naquele país.
- A invasão russa da Ucrânia já provocou pelo menos 1179 mortos e 1860 feridos entre a população civil, a maioria dos quais vítimas de armamento explosivo de grande impacto, indicou hoje a ONU.