A decisão de um arcebispo francês de promover um padre condenado a pena de prisão por violar um adolescente levou a uma nova desaprovação da Igreja Católica Romana pelo seu historial em casos de abuso sexual.
Corpo do artigo
Grupos de apoio a vítimas e tradicionalistas manifestaram indignação pelo caso de Dominique Spina, considerado culpado de violar um adolescente de 16 anos em 2006 e condenado a cinco anos de prisão.
O arcebispo de Toulouse, Guy de Kerimel, desencadeou a polémica em junho, quando nomeou Spina chanceler diocesano, colocando-o à frente dos arquivos.
O código canónico estabelece que o chanceler deve ser "de reputação honesta e acima de qualquer suspeita".
Kerimel afirmou ter agido por "misericórdia" ao fazer a nomeação e que não tinha "nada a censurar" ao padre numa "função administrativa".
Num comunicado divulgado na quinta-feira, perante os crescentes protestos, Kerimel reconheceu a "incompreensão" e os "questionamentos" entre os católicos, mas reiterou que, sem "misericórdia", Spina corre o risco de uma "morte social". "Não se trata, de forma alguma, de minimizar um crime" e a vítima deve ser "reconhecida e ajudada", insistiu.
Devido à sensibilidade do tema, os líderes católicos têm-se mostrado relutantes em falar publicamente, mas um bispo disse à AFP, sob anonimato, que a nomeação foi "uma grande vergonha" para a Igreja. "Um padre condenado por atos sexuais graves não pode voltar a ocupar um cargo de responsabilidade. Devíamos poder dizer isso", acrescentou.
Num comunicado conjunto, vários grupos de vítimas de abusos sexuais em escolas católicas manifestaram a sua "profunda indignação" e "raiva" com a nomeação. A comunicação social católica também criticou a nomeação.
O jornal diário católico "La Croix" afirmou que "o princípio da misericórdia não pode ser usado como justificação precipitada". Já o site tradicionalista "Riposte Catholique" classificou a nomeação como "injustificável" e afirmou que o Vaticano deveria intervir. "A compaixão não consiste em reabilitar um condenado a uma posição canónica", comentou o site cristão "Tribune Chretienne", conhecido pela sua linha conservadora.
A Igreja Católica Francesa já está a recuperar de vários escândalos sexuais em escolas que gere e de acusações de abusos sexuais de longa data contra o Abade Pierre, outrora um ícone da defesa dos pobres, que morreu em 2007.
A Igreja criou duas comissões para reconhecer e compensar os abusos generalizados descobertos por um inquérito independente divulgado em 2021.