Roberto Antônio Perdiza, coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), foi morto por uma prostituta, em agosto do ano passado. Durante quatro meses, Jerusa assumiu a identidade do cliente e mandou mensagens do telemóvel da vítima a familiares e amigos para tentar encobrir o crime. O motivo? Dinheiro.
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No dia 30 de agosto de 2022, Roberto saiu do apartamento em Natal, no Rio Grande do Norte, Brasil, ao final da tarde, mas nunca mais voltou a entrar. Durante cerca de quatro meses, os familiares e amigos do homem de 71 anos continuaram a receber mensagens e fotos como se ele estivesse vivo, mas a indisponibilidade para uma chamada e a mudança no tom das mensagens alarmou um amigo próximo, que acabou por contactar a polícia. O caso foi revelado esta semana no programa "Fantástico", da "TV Globo".
Esquema quase perfeito
O coronel da Força Aérea Brasileira conheceu Jerusa num espaço noturno há três anos e desde então os encontros entre os dois tornaram-se frequentes. As imagens das câmaras de segurança do condomínio mostram Roberto a sair de casa por volta das 17 horas no dia 30 de agosto e Jerusa a entrar na madrugada seguinte, por volta das 6 horas, e, sabe-se agora, tinha com ela o telemóvel da vítima.
O porteiro do condomínio foi o primeiro a dar pela falta de Roberto e contactou a irmã, que mora em São Paulo. Nos dias seguintes, a família e os amigos tentaram falar com o coronel, mas só o conseguiram fazer através de mensagens. Chegaram inclusive a receber fotos dele na piscina e esta aparente normalidade ia tranquilizando a família.
Milton, advogado e amigo do oficial, também estranhou a ausência e chegou a telefonar, mas quem atendeu foi Jerusa. "Liguei após três dias a tentar. Sabia que uma namorada estava morando com ele", disse. A mulher garantiu que Roberto iria retribuir a chamada "em breve". "Como ela não tinha família em Natal, ele ofereceu-lhe o apartamento para ela morar", explica Milton, citado pelo site noticioso "Metropoles". Segundo as autoridades, a prostituta chegou a enviar um áudio do telemóvel do coronel para Milton, que posteriormente percebeu que se tratava de um recorte de uma outra gravação enviada pelo amigo, meses antes, e acabou por denunciar o desaparecimento do amigo.
À polícia, Jerusa negou morar com Roberto e garantiu que falavam por videochamada. Durante meses os familiares continuaram a receber mensagens e fotos enviadas do telemóvel da vítima. Durante a investigação, os agentes da Polícia Civil brasileira notaram que a mulher estava a retirar dinheiro da conta do cliente e que, também, estava a tentar vender o apartamento. O imóvel, avaliado em 250 mil reais (cerca de 44 250 euros), estava a ser vendido abaixo do preço numa tentativa de acelerar o processo. Com o tempo, a mulher começou a mudar a postura e as mensagens enviadas do telemóvel de Roberto passaram a ser "deixem-me em paz" e "estou no Rio de Janeiro".
Porém, a investigação mudou, em dezembro, quando foi encontrado um corpo em Macaíba, perto de Natal, sem cabeça e sem mãos. Eram os restos mortais de Roberto.
Assassino profissional
Após análise das imagens de segurança do prédio, a polícia concluiu que Roberto foi até um bar próximo de casa, onde se encontrou com Jerusa. De lá, as autoridades acreditam que eles foram para um motel e, quando vinham embora, o assassino profissional, identificado como José Rodrigues, fez-se passar por motorista e aproveitou a oportunidade para matar o coronel. A vítima foi morta a tiro, mas cortaram-lhe a cabeça e as mãos para tentar dificultar a identificação.
Jerusa foi presa em dezembro e vai responder pelo crime de latrocínio (derivado do crime de roubo, em que o homicídio é o crime-meio, ou seja, mata-se para roubar) e enfrenta uma pena que pode ir até aos 30 anos de prisão. O assassino contratado foi preso em janeiro deste ano e também vai responder pelos mesmos crimes. Os suspeitos negam todas as acusações.