Os protestos contra a ofensiva israelita na Faixa de Gaza chegaram às universidades belgas, com um acampamento em Bruxelas, que se junta a outra manifestação em Gante, num movimento que começou no Estados Unidos e se alargou à Europa.
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"Pedimos o fim de todos os acordos entre Israel e a Universidade Livre de Bruxelas (ULB), a publicação de todos os acordos da ULB tem e o cancelamento da conferência do ex-embaixador de Israel na ULB", afirmou à agência EFE um porta-voz do movimento Universidade Popular de Bruxelas, que organiza o protesto no campus belga da capital e que pediu para não ser identificado.
Cerca de 30 estudantes ocuparam um edifício universitário na noite de terça-feira, num protesto não autorizado, durante o qual ocorreu uma altercação entre manifestantes e estudantes judeus.
Segundo ativistas pró-palestinianos, o incidente foi resultado de "uma estratégia deliberada de provocação por parte de um grupo de estudantes para criar tensões com a ocupação [do edifício] e para deslegitimá-la publicamente".
Já Gad Deshayes, copresidente da União dos Estudantes Judeus da Bélgica e um dos dois jovens agredidos, afirmou que não houve provocações e que se limitou a filmar com o telemóvel outro aluno que transportava uma bandeira israelita uma vez que receava que ele fosse atacado.
Os agentes de segurança do campus intervieram e puseram fim ao incidente, acrescentou este estudante de Direito de 20 anos, que mostrou sinais de agressão no pescoço e explicou que apresentou queixa à polícia e à direção da Universidade.
"Em nenhuma circunstância a violência da guerra pode levar à violência nos nossos campi . Todos os membros da comunidade universitária têm direito à dignidade e à segurança", afirmou a direção num comunicado.
A ULB referiu que a universidade iniciou "uma análise das suas associações e acordos que a ligam às universidades israelitas" e que no dia 25 de março o conselho de reitores das universidades das regiões de Bruxelas e da Valónia decidiu "suspender o seu acordo de intercâmbio estudantil com a Universidade de Telavive".
No entanto, a ULB não prevê suspender uma conferência sobre o Médio Oriente no dia 03 de junho, "com o objetivo de estimular o diálogo", na qual participarão o ex-embaixador de Israel em França Elie Barnavi, juntamente com o presidente dos Repórteres Sem Fronteiras, Pierre Haski, e dois académicos especialistas em história e relações internacionais.
Os tumultos no campus de Bruxelas coincidiram com a primeira noite de um acampamento promovido por estudantes da Universidade de Gante, no norte do país, que pretende "cortar relações com instituições israelitas, alegando que são cúmplices do genocídio em Gaza", explicou um dos organizadores à EFE.
O reitor da universidade afirmou em comunicado que a instituição também está a rever os seus acordos com as entidades estrangeiras, justificando que estes estão sujeitos a uma cláusula de direitos humanos.
No país vizinho, foram também registados confrontos hoje entre a polícia e manifestantes na Universidade de Amesterdão (UvA), onde os estudantes pedem igualmente desde segunda-feira que a instituição neerlandesa corte todos as relações com Israel.
Imagens transmitidas pelo canal local AT5 mostraram dezenas de polícias de choque a prender manifestantes e a remover as barricadas montadas no local.
Os organizadores do protesto e a liderança da UvA conversaram hoje mas o diálogo não levou a nada, disseram os manifestantes.
Centenas de manifestantes também se reuniram hoje no campus da Universidade de Utrecht, no centro dos Países Baixos, segundo a imprensa local.
Vários protestos contra a invasão de Israel na Faixa de Gaza foram realizados em várias universidades norte-americanas públicas e privadas, mas têm sido desmantelados pela polícia.
Os manifestantes protestam contra o apoio dos Estados Unidos à ofensiva de Israel sobre a Faixa de Gaza e exigem às universidades que cortem qualquer relação com instituições ligadas a Telavive.
Estas manifestações têm sido replicadas por todo o mundo, em vários países europeus, incluindo em Portugal, no Canadá, na América Latina e na Austrália.
O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do grupo islamista palestiniano Hamas em 7 de outubro, que matou quase 1200 pessoas, com Israel a responder com uma ofensiva em grande escala que provocou mais de 34 mil mortos no enclave, segundo balanços das duas partes.