Milhares de pessoas mantêm-se concentradas, na noite desta sexta-feira, na Praça da Concórdia, em Paris, em novo protesto contra a decisão do Governo francês de aumentar a idade da reforma para 64 anos, num ambiente de tensão e confrontos.
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As Companhias Republicanas de Segurança (CRS) - a unidade especial da Polícia Nacional - fizeram várias cargas sobre os manifestantes e instalaram uma barragem de canhões de água para impedir a aproximação à Assembleia Nacional, que na segunda-feira vai votar duas moções de censura ao Executivo de Elisabeth Borne.
"Paris em fogo e Macron no meio", descrevia de forma sintética um "direto" do diário francês "Le Monde", relatando que os manifestantes "acenderam um braseiro sob o fundo de um ambiente jovial" mas que a Polícia fez "várias cargas para os dispersar".
Concentrações replicaram-se em cidades como Lille, Estrasburgo ou Bordéus, e noutros pontos do país, que os sindicatos e outros movimentos, incluindo os "coletes amarelos" e organizações de estudantes, querem manter paralisado.
Aos gritos de "Paris subleva-te!" e "Macron, demissão!", os manifestantes faziam regressar os protestos à Praça da Concórdia, onde, na quinta-feira, se registaram incidentes, com a Polícia a prender 258 pessoas, mal a primeira-ministra anunciou o recurso ao artigo 49.3 da Constituição que permite ao Governo fazer passar uma lei sem ser votada na Assembleia Nacional.
"Ação massiva"
Em resposta, os sindicatos decidiram reforçar as manifestações e greves, especialmente em setores vitais como os transpores ferroviários, com a paralisação da circulação e a ocupação de estações, as refinarias e terminais de gás, que se mantêm bloqueadas, recolha de resíduos urbanos (em Paris, por exemplo, mais de dez mil toneladas de lixo acumulam-se nas ruas).
Além de prolongar neste fim de semana as paralisações, que também afetam os transportes aéreos (as autoridades pediram a redução de voos em 30% em Paris-Orly e em 20% em Marselha-Provença), o movimento sindical, ao qual se juntaram estudantes que ocuparam muitas escolas secundárias e universidades, apela a uma "ação massiva" para o dia 23.
Segunda-feira, a Assembleia Nacional vai votar as duas moções de censura ao Governo depositadas ontem - uma do partido centrista Liberdades, Independentes, Ultramar e Territórios (LIOT), apoiada pela Força Insubmissa e por socialistas, comunistas, verdes e Esquerda Democrática e Republicana; outra da União Nacional (extrema-direita).
Será difícil fazer passar as moções, uma vez que o partido de Macron, Renascença (ex-A República em Marcha) e os seus aliados (Democratas e Horizontes) a rejeitarão, contando com o compromisso de Os Republicanos de não as viabilizar.
Mas esta bancada divide-se, embora sejam necessários 20 dos seus eleitos para decidir a queda do Governo. Nos cálculos da imprensa francesa, há já quatro republicanos que votarão a moção do LIOT e alguns outros estão indecisos. Ao fim do dia, havia também sinais de descontentamento no seio da maioria pelo recurso ao famigerado artigo 49.3.