Mensagens publicitárias pagas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel com imagens gráficas relacionados ao conflito com o Hamas alcançaram aplicações de jogos infantis. Os desenvolvedores respondem agora diante das denúncias dos pais e dos média.
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A propaganda exibida nos telemóveis mostra um vídeo com militantes do Hamas, famílias israelitas aterrorizadas e imagens violentas desfocadas, incluindo ataques de rockets, uma explosão e homens mascarados armados. Segundo a agência Reuters, uma mensagem aparece sob um fundo preto: "VAMOS GARANTIR QUE AQUELES QUE NOS FAZEM MAL PAGUEM UM PREÇO PESADO".
A mensagem foi vista pelo filho de seis anos de Maria Julia Assis, brasileira que mora em Londres. "Ele ficou chocado", salientou à mesma agência. "Ele literamente disse: 'O que este maldito anúncio está a fazer no meu jogo?'", afirmou Assis, que rapidamente apagou a aplicação.
A Reuters documentou pelo menos outros cinco casos na Europa em que o mesmo vídeo foi exibido para jogadores, incluindo menores – em França, Áustria, Alemanha e Países Baixos. Um dos jogos em que o anúncio apareceu foi "Angry Birds", da desenvolvedora finlandesa Rovio.
A diretora de comunicações da empresa, Lotta Backlund, disse que a publicidade não deveria ter sido mostrada dentro da aplicação, já que a empresa tem uma política que proíbe anúncios que contenham pornografia, violência ou jogos de aposta. A porta-voz frisou à agência finlandesa STT que a Rovio pediu a remoção da peça publicitária às empresas parceiras.
Governo israelita confirma anúncios
O diretor digital do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, David Saranga, confirmou à Reuters que a publicidade era promovida pelo Governo de Israel, mas não soube informar como o anúncio chegou a aplicações de jogos. O Executivo do Estado hebraico já gastou 1,5 milhão de dólares (1,4 milhão de euros) em propaganda na Internet desde os ataques do Hamas, a 7 de outubro.
Saranga alegou que oficiais instruíram o bloqueio dos anúncios para menores de 18 anos, mas defendeu o uso de imagens violentas. "Queremos que o Mundo entenda que o que aconteceu aqui em Israel é um massacre", acrescentou.
O israelita afirmou ainda que a tutela responsável pela política externa pagou empresas como Taboola, Outbrain, Alphabet (empresa dona da Google) e X (antigo Twitter). As duas primeiras empresas declararam não terem ligações com a publicidade nos videojogos. Já a Google exibiu mais de 90 anúncios, mas não esclareceu aonde. A rede social X não respondeu às perguntas da Reuters.
Até ao momento, um equivalente palestiniano não foi encontrado nos meios digitais. Apenas alguns vídeos em árabe foram promovidos pela Palestine TV, agência de notícias com sede na Cisjordânia e afiliado à Autoridade Palestiniana.