Quando Carles Puigdemont chegou à presidência da Generalitat da Catalunha prometeu “lutar com unhas e dentes” pela independência. Era Janeiro de 2016 e, ele, um desconhecido para a política nacional espanhola.
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Artur Mas, presidente nesse momento – tinha sido vetado pelos independentistas da CUP, que ameaçavam fazer cair o Governo de coligação se não se demitisse –, escolheu-o como sucessor. E aquela decisão mudou-lhe a vida.
Para trás ficava um percurso político cujo momento alto tinha sido a vitória na Câmara Municipal de Girona, em 2011, onde chegou também a presidente da Associação de Municípios Independentistas.
Independentista convicto, avisou que vinham tempos impróprios para “cobardes e medrosos” e o tempo deu-lhe razão. Não sem ironia à mistura, Puigdemont transformou-se no líder do independentismo, mas também no político que fugiu, deixando os seus companheirosa enfrentar a Justiça sozinhos.
No dia 1 de Outubro de 2017, a Catalunha celebrou um referendo de autodeterminação ilegal. Participaram na consulta 2.286.217 pessoas (43% do censo) e 90% votaram a favor da independência da região. Os dias que se seguiram foram vertiginosos e culminaram na declaração unilateral de independência, no dia 10.
O Governo de Mariano Rajoy aplicou o artigo 155.º da Constituição, destituiu o Governo catalão, e convocou eleições antecipadas. E antes que o mês acabasse, no dia 29, Puigdemont fugiu para Bruxelas.
Em resposta, a Audiência Nacional decretou prisão provisória sem fiança para os principais líderes independentistas, que haveriam de ser julgados e condenados a penas de até 13 anos de prisão.
Detido duas vezes
Puigdemont consegue a imunidade de Eurodeputado em 2019, após vencer as eleições europeias catalãs. Ainda é detido duas vezes, na Bélgica e na Alemanha, na sequência de euro-ordens emitidas pelos tribunais espanhóis, mas é libertado imediatamente.
Pedro Sánchez, que precisava dos votos do Junts x Catalunya para ser investido, acedeu à aprovação da lei de amnistia. Uma lei que Puigdemont pensava aproveitar para regressar a Espanha, na investidura de Salvador Illa, depois do socialista ter vencido as eleições regionais de maio e ter arrebatado a esperança de Puigdemont voltar ao poder.
O Supremo Tribunal recusou aplicar-lhe a lei, mas Puigdemont dobrou a aposta: voltou a Barcelona, acusou a Justiça espanhola de falta de democracia e voltou a desaparecer.