A "guerra dos livros" continua nas escolas dos EUA, principalmente na Florida. Alunos e pais a favor da leitura de livros sobre temas mais sensíveis opõem-se ao grupo conservador Mães pela Liberdade, que vai para as reuniões do conselho educativo ler passagens polémicas de livros, sem contexto, para os banir.
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As reuniões do conselho educativo de várias escolas da Florida, nos EUA, têm sido marcadas pela disputa entre os grupos conservadores contra a leitura de livros que consideram ser inapropriados e os alunos e pais que são a favor da leitura desses livros. Grupos como as Mães pela Liberdade têm-se manifestado, lendo em alta voz passagens explicítas dos livros, sem contexto, para que as escolas os banam. Por outro lado, os defensores da liberdade de acesso a títulos mais polémicos argumentam que os mesmos devem ser lidos, revela a CNN Internacional.
Nos últimos meses, livros considerados polémicos estão a ser banidos do curriculum e das bibliotecas escolares em vários estados, mas é na Florida que esta prática está a atingir maiores proporções, com a região a registar 40% das obras proibidas durante o último ano letivo em todo o país.
Em julho, o estado da Florida, governado pelo republicano Ron DeSantis, opositor de Donald Trump nas primárias para as presidenciais do próximo ano, aprovou uma lei que prevê que basta um membro do conselho educativo mandar parar a leitura de um livro, por considerá-lo ofensivo, para a obra ser imediatamente proibida.
Segundo a estação norte-americana, a nova legislação está a baralhar os advogados das escolas e os opositores à nova lei ficam sem grande margem de manobra.
"Os pais que fazem isto não compreendem os adolescentes"
As reuniões da escola de De Land, no condado de Volusia, tem estado a ferro e fogo com as Mães pela Liberdade. Em todos os encontros, foram lidos trechos com passagens sexuais descontextualizadas, que culminaram na exclusão de livros da biblioteca da escola.
Trixie Meckley, aluna do secundário, não tem dúvidas de que os pais que querem retirar os livros "claramente não compreendem os adolescentes". A jovem referiu à CNN Internacional que, quando o livro "Género Queer: Memórias" foi banido, teve a iniciativa de pesquisar na internet para perceber o conteúdo da obra e chegou à conclusão de que "parece muito interessante".
Numa das reuniões da escola de De Land, Merrick Brunker, um dos candidatos a membro do conselho escolar leu alguns trechos explícitos do romance de Jodi Picoult "19 minutos" sobre um tiroteio numa escola, que foi best-seller em 2007. Durante a leitura, uma pessoa mandou-o parar, o que significa a proibição daquele texto. Depois desse momento, Riley Kellogs, estudante da mesma escolaque garante ter um autocolante no telemóvel a dizer "se banires um livro, adiciono-o à minha lista de leituras de verão", interveio para afirmar que aprendeu "mais sobre o mundo" que o rodeia "através dos livros" do que através dos seus próprios olhos.
No mesmo sentido vão as declarações de Jacob Smith, antigo aluno da escola, que afirmou que "há alguns sentimentos sobre os quais os jovens gostavam de ser educados", uma vez que o seu pai leu livros que agora estão a ser retirados das prateleiras e, por isso, quer que "a geração Z seja a geração que encontrou uma nova paz, uma nova justiça, que a América nunca atingiu".
A líder do grupo conservador, Jenifer Kelly, faz uma analogia com bolachas envenenadas, referindo que quando as pessoas sabem que a bolacha tem veneno não a comem. Além disso, a conservadora vinca que não está "interessada na opinião dos estudantes", porque "se têm 17 anos ou menos, a decisão é dos pais".
Na região de Indian River, a discussão entre pais subiu de tom quando Michael Marsh, pai que defende a permanência das obras, disse que as Mães pela Liberdade" estavam a "fazer teatro e a montar um circo". Apesar de não gostar de todos os textos lidos por elas, não se revê "nos métodos".
O pai envergava uma camisola com a frase "os vossos direitos parentais não podem parar os meus" e acusou os outros pais de serem "bullies".
No Texas, a "guerra dos livros" também está ao rubro, com mais 400 livros boicotados. O último caso polémico foi o de uma professora despedida por ler uma versão do diário de Anne Frank com passagens consideradas "inapropriadas".
Califórnia aprova lei para impedir que as escolas retirem livros
Em sentido contrário, o estado da Califórnia adotou uma lei no dia 25 de setembro que proíbe as escolas de banir livros, materiais ou programa categorizado como diverso ou inclusivo, refere a rádio pública norte-americana NPR.
O objetivo do governo liderado pelo democrata Gavin Newson passa por colocar um ponto final à "onda de proibições de materiais" relacionados com as comunidades negra e LGBT+. Isto numa altura em que algumas escolas do estado baniram bandeiras LGBT+.
O gabinete do governador salientou, num vídeo publicado na rede social X, antigo Twitter, que a medida surge no contexto em que se vive uma "purga cultural na América e que também está a crescer na Califórnia", com escolas a "banir livros, a liberdade de expressão e a criminalizar livreiros e professores" .