"Puro terror". Nova estratégia da Rússia está a deixar a Ucrânia sem luz e ao relento
Os ataques russos dos últimos dias deixam a nu a mudança de estratégia de Putin na guerra com a Ucrânia. Em pouco mais de dez dias, cerca de 300 ataques de drones e mísseis danificaram 40% do sistema elétrico do país. O "terror russo" está a obrigar os ucranianos a minimizarem o consumo de luz e a causar "apagões programados" em todo o território para poupar a rede elétrica.
Corpo do artigo
Sem luz e, consequentemente, sem meios para se aquecerem, os ucranianos estão a sofrer na pele as consequências da nova estratégia militar da Rússia no conflito. Após a anexação unilateral de quatro regiões ucranianas, no leste do país, o exército de Putin sofreu algumas derrotas amargas, com a Ucrânia a reconquistar território a cada dia que passa.
Por isso, a Rússia mudou o foco e concentra-se agora nas infraestruturas energéticas, de modo a aterrorizar o povo ucraniano e perturbar o exército. "A vantagem deste tipo de estratégia é que paralisa a economia e, em grande medida, as Forças Armadas, e sem grande risco para a Rússia", afirmou o analista militar russo, Alexander Khramchikhine, entrevistado pela agência France-Presse.
Mais de 300 ataques de drones e mísseis atingiram diferentes centrais elétricas da Ucrânia, desde o dia 10 de outubro, - ou seja, cerca de 40% das infraestruturas energéticas ficaram seriamente danificadas. A destruição nalguns casos é bastante significativa e pode levar mais de um ano a ser reparada, revelou o ministro da Energia da Ucrânia, Herman Halushchenko, citado pelo "The Guardian".
15264486
Na quarta-feira, um ataque aéreo causou danos "muito graves" na maior central termoelétrica na cidade de Burshtyn, no oeste da Ucrânia, e a central elétrica de Kryvyi Rih ficou "bastante destruída". A região de Sumy, na fronteira com a Rússia, ficou sem transporte público elétrico, iluminação na rua e água, das 7 da manhã até às 23 horas, segundo disse a governadora da região Svitlana Onyshchuk.
Milhares de pessoas ficaram sem luz, numa altura em que as temperaturas desceram consideravelmente na Ucrânia. Por isso, Volodymyr Zelensky afirmou que as pessoas devem estar "especialmente conscientes do consumo de eletricidade e evitar a utilização de aparelhos desnecessários". O Governo apelou à população que limitasse o consumo de energia entre as 7 e as 22 horas e impôs ainda um "apagão programado", de até quatro horas, na quinta-feira, de modo a não sobrecarregar a rede elétrica. Também na rua, o uso das luzes públicas está a ser minimizado. O objetivo é reduzir em 20% a utilização da eletricidade.
Os cortes esporádicos de energia elétrica afetaram partes da cidade de Kiev e de muitas outras regiões da Ucrânia, incluindo cidades a oeste, como Lviv, que está muito longe dos combates. As empresas energéticas estão a preparar-se para "todos os cenários possíveis" para o inverno.
15261135
"Atos de puro terror"
O presidente ucraniano acusa a Rússia de querer provocar uma nova onda de migração no país. "O terror russo contra as nossas instalações energéticas pretende criar o maior número possível de problemas com eletricidade e o calor, neste outono e inverno, para que mais ucranianos fujam para países europeus", afirmou, através de um vídeo, na Cimeira da União Europeia, que decorre até esta sexta-feira.
Contra o "terror russo" pediu aos Aliados mais sistemas antiaéreos e sanções adicionais ao Irão, que produz alguns dos drones que Moscovo está a utilizar para atacar a Ucrânia.
"Os ataques da Rússia contra infraestruturas civis, especialmente de eletricidade, são crimes de guerra", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, num discurso no Parlamento, citado pela agência Reuters. "Ataques direcionados à infraestrutura civil com o objetivo claro de deixar homens, mulheres e crianças sem água, eletricidade e aquecimento com o início do inverno são atos de puro terror e temos que qualificá-lo como tal".
Von der Leyen garantiu o apoio continuado à Ucrânia "pelo tempo que for necessário", prometendo "proteger os europeus da outra guerra que Putin está a travar contra a nossa energia".
Também o chanceler alemão acusou a Rússia de utilizar a energia e a fome como armas. "As táticas de terra queimada não ajudarão a Rússia a vencer a guerra. Só irão reforçar a unidade e a determinação da Ucrânia e dos seus parceiros", disse Olaf Scholz ao parlamento alemão, citado pelo "The Guardian".
"Ao bombardear as infraestruturas civis críticas da Ucrânia, incluindo instalações energéticas, o exército russo pretende claramente minar a produção industrial, perturbar os transportes, semear o medo e o desespero e privar os civis na Ucrânia de calor, eletricidade e água à medida que se aproxima o frio do inverno", revela a Amnistia Internacional, em comunicado. E reafirma: "a realização destes ataques tem como único objetivo aterrorizar os civis é um crime de guerra".