As três jovens do grupo russo punk "Pussy Riot" foram condenadas a dois anos de prisão por um tribunal de Moscovo por "vandalismo" e "incitamento ao ódio religioso". A leitura da sentença foi acompanhada por apoiantes e opositores da banda, que se concentraram em frente ao tribunal. Garry Kasparov foi um dos detidos.
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A sentença foi ditada pela juiza do tribunal de Khamovnitcheski, em Moscovo, Marina Syrova, que estabeleceu um prazo de dez dias para o recurso.
Na área circundante ao tribunal foi acionado um forte dispositivo policial e colocadas barreiras metálicas para tentar impedir grandes aglomerados, segundo o testemunho de uma jornalista da France Presse.
Diante do edifício da instância judicial, alguns manifestantes ultranacionalistas e ortodoxos gritaram palavras de ordem contra as jovens cantoras.
"Quero que as Pussy e aqueles que as apoiam ardam no inferno", afirmou um dos manifestantes.
Outro grupo, com cerca de 100 pessoas, apoiava os três elementos do grupo punk. "Libertem as Pussy Riot!" e "Libertem os prisioneiros políticos!" foram algumas das frases entoadas pelos manifestantes.
Neste grupo, estava uma das figuras do movimento de contestação ao regime do Presidente russo, Vladimir Putin, o blogger Alexei Navalny, que conseguiu entrar no tribunal, segundo testemunharam os jornalistas da France Presse.
O líder da oposição na rússia, Garry Kasparov, ex-campeão do mundo de xadrez, foi um dos detidos pela polícia durante os protestos.
Outra figura da oposição russa, o líder da Frente de Esquerda, Serguei Oudaltsov, também presente no protesto, foi interpelado pela polícia quando tentava passar uma das várias barreiras que impediam a entrada no edifício do tribunal. Oudaltsov foi levado para um carro da polícia.
Também outros dois simpatizantes das Pussy Riot, um deles envergando um passa-montanha, a imagem de marca do grupo punk feminino, foram interpelados pelas forças de segurança.
Em outras localidades russas também foram organizadas manifestações de apoio às Pussy Riot. Em Samara, na região de Volga, nove pessoas foram igualmente abordadas pelas autoridades.
Arguidas "não mostraram arrependimento"
A presidente do tribunal Khamovnitcheski, em Moscovo, Marina Syrova, declarou esta sexta-feira, durante a leitura da sentença, que as três jovens são "culpadas de vandalismo".
As três jovens - Nadejda Tolokonnikova, de 22 anos, Ekaterina Samoutsevitch, de 29, e Maria Alekhina, de 24 -, entraram encapuzadas em fevereiro passado numa catedral ortodoxa de Moscovo e cantaram uma canção de protesto contra Vladimir Putin.
As jovens foram detidas em março e mantidas, até à data, sob custódia policial.
Durante a leitura da sentença, a juíza Marina Syrova repetiu em parte os argumentos da acusação, que pede três anos de prisão para as jovens pelos crimes de "vandalismo" e "incitação ao ódio religioso".
A juíza sublinhou que as acusadas não manifestaram arrependimento e que "violaram a ordem pública" e "ofenderam os sentimentos [religiosos] dos crentes".
"O tribunal considera-as culpadas. O tribunal chegou a esta conclusão com base nos testemunhos das arguidas e de outras provas", disse a juíza.
As três jovens, que estavam numa zona isolada do tribunal, ouviram a leitura da sentença com um semblante aparentemente calmo.
Uma delas, Nadejda Tolokonnikova, que envergava uma t-shirt com a frase "No pasaran" (Não passarão, em português), chegou a sorrir.
Os advogados de defesa pedem a absolvição das três jovens. A pena máxima por "vandalismo" é de sete anos de prisão.
O caso das Pussy Riot está a provocar várias divisões na sociedade russa, bem como ganhou um grande mediatismo internacional.
Durante as últimas semanas, vários nomes da música internacional manifestaram publicamente o seu apoio à banda russa.
Madonna, Sting, Red Hot Chilli Peppers ou Yoko Ono, a viúva do ex-Beatle John Lennon, ou Paul McCartney foram alguns desses nomes.
As jovens do grupo 'punk' também conseguiram reunir apoios na área política, como foi o caso de 120 deputados do Parlamento alemão e do ministro dos Negócios Estrangeiros da República Checa.
Para esta sexta-feira foram anunciadas concentrações a favor das três jovens em várias cidades internacionais, nomeadamente em Varsóvia, Sidney, Paris e Nova Iorque.