
O presidente russo, Vladimir Putin
Sergei Ilnitsky / EPA
O presidente russo, Vladimir Putin, advertiu, esta sexta-feira, que a Rússia tem armas capazes de alcançar alvos no Ocidente, ao discursar perante a Assembleia Federal em Moscovo.
"Nós também temos armas capazes de atingir alvos no vosso território", afirmou Putin, citado pela agência francesa AFP.
Moscovo tem acusado os aliados ocidentais da Ucrânia de estarem a fornecer armas a Kiev capazes de atingir alvos no interior da Federação Russa.
Putin acusou ainda o Ocidente de fazer ameaças contra a Rússia que estão a criar um risco real de um conflito nuclear. "Tudo o que estão a inventar neste momento, tudo o que estão a assustar o mundo, é uma ameaça real de um conflito que envolve o uso de armas nucleares, o que significaria a destruição da civilização", afirmou.
Putin considerou disparatadas alegações de que a Rússia pretende atacar a Europa. "O Ocidente provocou um conflito na Ucrânia, no Médio Oriente e noutras regiões do mundo e continua a mentir", afirmou, citado pela agência russa TASS. "Agora, sem qualquer embaraço, dizem que a Rússia tenciona atacar a Europa. Vocês e eu compreendemos que eles estão a dizer disparates", disse Putin.
O líder russo também advertiu a NATO para as consequências desastrosas se enviar tropas para a Ucrânia, segundo a agência espanhola EFE. "Começaram a falar sobre a possibilidade de enviar contingentes militares da NATO para a Ucrânia, mas lembramo-nos do destino daqueles que uma vez enviaram tropas para o território do nosso país", afirmou, aludindo à vitória soviética contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. "Mas, agora, as consequências para os potenciais intervencionistas serão muito mais trágicas", advertiu.
O presidente francês, Emmanuel Macron, admitiu recentemente a possibilidade do envio de tropas ocidentais para a Ucrânia para ajudar a combater a invasão russa, mas os parceiros da NATO rejeitaram tal possibilidade.
Putin afirmou que o Ocidente está a tentar fazer com que a Rússia cometa o mesmo erro que a União Soviética de se envolver numa corrida ao armamento.
Referiu que a União Soviética dedicou 13% do Produto Interno Bruto (PIB) ao desenvolvimento de armamento, enquanto a Rússia irá atribuir 6% do PIB à Defesa até 2024.
Disse também que Moscovo tenciona desenvolver o complexo técnico-militar a fim de reforçar o potencial industrial, tecnológico e científico do país.
Putin afirmou que a Rússia cumpriu os planos para desenvolver os novos mísseis e armamento anunciados pelo Kremlin em 2018, alguns dos quais já foram entregues às Forças Armadas russas e até utilizados na guerra na Ucrânia. "Já fizemos ou concluímos o trabalho em tudo o que planeámos na esfera dos armamentos, que anunciei na minha mensagem de 2018", afirmou.
O dirigente russo recordou que o míssil hipersónico "Kinzhal" já foi utilizado na Ucrânia "contra alvos particularmente importantes" e referiu que estão a ser concluídos os testes do míssil de cruzeiro "Burevéstnik" e do 'drone' submarino "Poseidon". "Continuamos a trabalhar numa série de sistemas de armamento muito novos. Iremos ouvir falar de novas realizações dos nossos cientistas e fabricantes de armas", prometeu.
Putin disse que os primeiros mísseis intercontinentais "Sarmat" (SS-X-30 Satan-2, segundo a NATO), capazes de transportar 10-15 ogivas nucleares guiadas individualmente, já foram entregues ao exército russo. "Em breve, mostrá-los-emos nas suas bases de origem", afirmou, segundo a AFP.
Putin também descreveu como infundadas as acusações dos Estados Unidos de que a Rússia pretende instalar armas nucleares no espaço.
Mas reafirmou que as forças nucleares estratégicas da Rússia estão "em plena prontidão de combate". "Sem uma Rússia forte e soberana, não será possível uma ordem mundial forte", disse.
Putin assegurou ainda que a Rússia está disposta a dialogar com todos os países para criar um novo contorno de segurança igual e indivisível na Eurásia.
Tropas russas avançam "com confiança" em várias frentes
O exército russo está a avançar "com confiança" em várias frentes na Ucrânia, anunciou Vladimir Putin. "As capacidades militares das forças armadas [russas] foram multiplicadas. Estão a avançar com confiança em várias direções" na linha da frente, declarou Putin perante a elite política do país, citado pela agência francesa AFP.
A Rússia está "a defender a sua soberania e segurança e a proteger os nossos compatriotas" na Ucrânia, disse Putin sobre o conflito que Moscovo iniciou com a invasão do país vizinho há dois anos.
Putin prestou homenagem aos soldados que combatem na Ucrânia e disse que estão a criar "condições absolutamente necessárias" para o futuro da Rússia, segundo a agência espanhola EFE. "Somos uma grande família (...). Acredito nas nossas vitórias e nos nossos êxitos, acredito no futuro da Rússia", proclamou durante o discurso de duas horas e seis minutos, o mais longo desde que ascendeu ao poder em 2000.
O líder russo prometeu que os soldados na linha da frente na Ucrânia vão vencer e não vão recuar, após mais de dois anos de ofensiva militar. "Os membros das forças armadas não vão recuar, não vão falhar, não vão trair", afirmou Putin, que pediu um minuto de silêncio para os que morreram em combate, cujo número não referiu.
Putin disse que a Rússia fará todo o possível para acabar com a guerra na Ucrânia e erradicar o nazismo no país vizinho. "Não foi a Rússia que começou a guerra no Donbass, mas faremos tudo para acabar com ela, erradicar o nazismo e cumprir os objetivos da operação militar especial" na Ucrânia, afirmou.
Putin admite preocupação com pobreza que atinge 13 milhões de pessoas
O presidente russo, no poder há mais de 20 anos, admitiu hoje que a pobreza afeta 13 milhões de pessoas na Rússia e que os baixos rendimentos são um dos problemas mais graves do país.
Vladimir Putin disse que a pobreza afeta 9% da população, em especial as famílias com muitos filhos.
Trinta por cento das famílias numerosas sofrem de pobreza, segundo Putin, que se vai candidatar a um quinto mandato nas eleições presidenciais de março, com vitória praticamente assegurada dada a ausência de opositores.
Putin afirmou que a luta contra a pobreza na Rússia, um país com mais de 140 milhões de habitantes, é uma das suas prioridades. "Precisamos de trabalhar constantemente para melhorar a qualidade de vida das famílias com filhos e para apoiar a taxa de natalidade. Para isso, vamos lançar um novo projeto nacional, que se chamará 'Família'", afirmou.
O chefe do Kremlin (presidência) propôs aos legisladores que o programa de apoio hipotecário às famílias numerosas seja prolongado até 2030. "Atualmente, com o nascimento de um terceiro filho, o Estado reembolsa parte do empréstimo hipotecário da família, 450 mil rublos [4500 euros, ao câmbio atual]. Proponho também que esta regra seja alargada até 2030", afirmou.
Putin anunciou que este ano serão afetados 50 mil milhões de rublos (507 milhões de euros) para o apoio hipotecário. "Há dinheiro para isso", assegurou, citado pela agência espanhola EFE.
O líder russo disse que o salário mínimo no país deverá duplicar até 2030, atingindo o equivalente a cerca de 360 euros.
Putin voltou a elogiar os "valores tradicionais" da família oficialmente defendidos pelo Kremlin, afirmando que a Rússia é um dos seus bastiões. "Uma família com muitos filhos deve tornar-se a norma", afirmou, numa altura em que a Rússia enfrenta graves problemas demográficos, agravados pelo ataque à Ucrânia e pela partida para o estrangeiro de centenas de milhares de pessoas.
O presidente russo e candidato à reeleição prometeu que nos próximos seis anos serão destinados mais de um bilião de rublos (cerca de 10 mil milhões de euros) ao sistema de saúde do país.
Os meios de comunicação social russos noticiaram que o discurso de Putin foi transmitido não só na televisão, mas também gratuitamente nos cinemas de 20 cidades da Rússia.
O discurso de hoje ocorre na véspera do funeral previsto em Moscovo para o principal opositor de Putin, o ativista anticorrupção Alexei Navalny, que morreu na prisão em 16 de fevereiro em circunstâncias obscuras.
Vladimir Putin, que nunca mencionou o nome de Navalny em público, ainda não comentou a morte do ativista de 47 anos, que chocou os países ocidentais.

