Já morreram mais de 6500 trabalhadores na construção de estádios para o Mundial deste ano.
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A Alemanha está a procurar alternativas à energia russa devido à guerra na Ucrânia, mas a solução encontrada - o Qatar - está longe de ser um exemplo em matéria de direitos humanos. Emirado tornado independente do império britânico em 1971, tem sido governado desde então pela família Al-Thani, sob a forma de uma monarquia absoluta que aplica a lei islâmica. Durante a construção dos estádios para o Mundial de futebol, que o Qatar receberá em novembro, terão morrido mais de 6500 trabalhadores.
Situado no Médio Oriente, o Qatar é um país peninsular que faz fronteira com a Arábia Saudita. Tem menos de três milhões de habitantes e é considerado um "regime autoritário" pelo Democracy Index, ranking anual publicado pela revista "Economist" que, em 2021, colocou aquele país no 114.º lugar, em 167 possíveis.
Por outro lado, o Qatar detém o sexto maior PIB per capita do mundo (PPP). Para este resultado muito contribuem as grandes reservas de gás natural e petróleo aí existentes: o país é o terceiro maior produtor mundial de gás (só atrás de Rússia e Irão) e ocupa o 14.º lugar no que diz respeito ao petróleo.
Em 2010, o Qatar foi escolhido pela FIFA como o país organizador do Mundial 2022. O processo foi polémico, tendo a justiça dos EUA, em 2020, acusado a organização de corrupção na escolha da candidatura vencedora. O próprio antigo presidente da FIFA, Sepp Blatter, afirmou que Nicolas Sarkozy, antigo chefe de Estado francês, tinha feito "pender a balança para o lado do Qatar".
Desde então, o país - pouco maior em área do que o distrito de Beja - construiu seis estádios e renovou outros dois. Nesse processo morreram, segundo o jornal britânico "The Guardian", pelo menos 6500 trabalhadores, oriundos de países como a Índia, o Nepal ou o Bangladesh. O Governo do Qatar respondeu: "A taxa de mortalidade entre essas comunidades está dentro da faixa esperada para o tamanho e a demografia da população".
A situação precária em que operam os trabalhadores no Qatar - e, em particular, os imigrantes - teve eco no mundo do futebol. Os jogadores da Alemanha, Holanda e Noruega entraram em campo, antes de jogos de qualificação para o Mundial, com camisolas com inscrições como "direitos humanos" ou "o futebol apoia a mudança".