Homens com melhor qualidade do esperma podem ter uma esperança de vida de até mais três anos do que os que apresentam pior qualidade. Cientistas acreditam que o stress e o consumo de tabaco e álcool debilitam a saúde e tal se reflete na capacidade de produzir espermatozoides.
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Cientistas dinamarqueses analisaram o esperma de quase 80 mil homens submetidos a testes de infertilidade, em Copenhaga. Estes exames tinham como objetivo analisar as causas para a má qualidade do sémen e encontraram uma relação com a longevidade do homem. "Parece realmente que quanto melhor a qualidade do sémen, maior a sobrevivência", refere Lærke Priskorn, o principal autor do estudo.
John Aitker, biólogo na Universidade de Newcastle, Austrália, suspeita que o stress oxidativo possa estar no centro das hipóteses da relação entre qualidade do esperma e longevidade: “Qualquer fator que aumente os níveis de stress oxidativo pode causar mudanças no perfil do esperma e padrões de mortalidade”. Esta patologia pode alterar o sistema imunológico e antecipar o envelhecimento.
Em termos genéticos, os investigadores acreditam que a fraca qualidade do esperma e a infertilidade masculina possa estar diretamente relacionada com o cromossoma Y, exclusivo dos homens. As mutações deste cromossoma estão relacionadas com o cancro ou doenças neuropsiquiátricas. Já as mutações no cromossoma X são responsáveis por grande parte das mortes no nascimento ou na infância, sendo que as variantes deste cromossoma constituem um fator responsável pela infertilidade.
Nos homens, a partir de uma determinada idade é comum surgirem maleitas relacionadas com o sistema imunitário tais como doenças respiratórias, doenças cardiovasculares, infeções ou até mesmo cancro. A produção de espermatozoides só é bem sucedida se existir um equilíbrio imunitário apropriado e a falha deste sistema, ao nível testicular, provoca mudanças no número e na qualidade de espermatozoides disponíveis para a ejaculação.
O estilo de vida e o ambiente em que se encontra o homem pode também ter implicações na qualidade do sémen. O consumo de álcool e tabaco, a obesidade e a exposição excessiva a poluentes são prejudiciais para o processo de produção de espermatozoides. Os poluentes podem afetar, por exemplo, os telómeros que envolvem as pontas dos cromossomas durante o processo da replicação e este desgaste é responsável pelo envelhecimento precoce e algumas doenças.
“Até agora ninguém chegou a uma conclusão satisfatória”, disse Allan Pacey, professor da Universidade de Manchester. Além destas hipóteses, as condições do útero no qual se desenvolve o bebé podem impactar a qualidade do esperma e a saúde do homem na vida adulta. Os exames foram feitos de acordo com o volume de sémen, a concentração de espermatozoides, o formato do esperma e a quantidade de espermatozoides em movimento.
Neste estudo, os cientistas controlaram a saúde dos homens em questão entre 1965 e 2015. “Em termos absolutos, homens com uma contagem total de mobilidade de mais de 120 milhões (por mililitro de sémen), viveram mais dois anos e sete meses do que os homens que produziram até cinco milhões”, concluiu Lærke Priskorn, numa declaração. Durante este período foi possível observar que enquanto uns nem sequer produziam espermatozoides, outros tinham uma qualidade de sémen muito boa.
Entre 1987 e 2015, quase 60 mil homens forneceram amostras do esperma e os registos continham mais informações, tais como as condições médicas diagnosticadas nos dez anos anteriores à análise.