"Primeira ovelha clónica já nasceu na Escócia." A sociedade estava tão maravilhada com as possibilidades da ciência como inquieta quanto aos seus limites. A notícia do JN com o título citado é de 25 de fevereiro de 1997 e o pós-título prenunciava um Mundo maravilhoso mas perigoso - como no famoso livro de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" - ao referir: "Cientistas fizeram, com sucesso, a cópia de um outro bovino".
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Comunicado ao Mundo no dia 22 desse mês, o nascimento da ovelha - Dolly, como foi chamada - com a reprodução a partir de um célula glandular mamária de outra com seis anos, ocorreu, foi precisado mais tarde, a 6 de julho de 1996. Tinha, portanto, cerca de sete meses de vida e "estava em perfeitas condições". Veio a morrer em 14 de fevereiro de 2003, sofrendo de envelhecimento precoce.
O acontecimento de 1997 foi anunciado pelo JN como um prodígio da ciência, mas também com prudentes reservas. "Pela primeira (vez) cientistas realizaram, por clonagem, a reprodução superior de mamífero, no que é considerada uma das mais espectaculares de sempre no campo da genética e da reprodução artificial, mas colocando sérias questões éticas", escrevia-se. "Uma delas é a aplicação da clonagem à espécie humana na tentativa de produzir cópias autênticas de um ser perfeito", acrescentava.
Para o principal investigador responsável pelo projeto do Instituto Roslin, de Edimburgo, na Escócia, e da empresa de biotecnologia PPL Therapeutics, Ian Wilmut, citado na notícia, "esta proeza constitui um passo importante em direção ao desenvolvimento de animais mais saudáveis e também mais produtivos". Investigações nos anos seguintes mostraram que os clones de animais sofriam, como a Dolly, de doenças genéticas e degenerativas.
Cientistas mostravam então reservas, segundo a notícia, face a "mais uma das controversas experiências no domínio da genética e que já produziu milho, soja e outros alimentos geneticamente manipulados e, em teoria, imunes a pesticidas e parasitas, mas com efeitos desconhecidos no organismo humano e de outros animais superiores, sobretudo nos mamíferos".
A possibilidade de a técnica vir a transpor a barreira humana foi desenvolvida na edição seguinte, com opiniões de vários cientistas e a notícia de que a Comissão Europeia pretendia "criar normas para regular a clonagem de seres vivos, de modo a evitar que o mesmo possa vir a ser feito em seres humanos".