A 20 de dezembro de 1999, faltavam três minutos para a meia-noite, Macau, o território que é hoje Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China mas integra a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), via arriar a bandeira de Portugal, ficando sob soberania chinesa, após quase cinco séculos de domínio português. "Alma portuguesa no corpo da China", sintetizava em manchete o JN do dia seguinte, cujo pós-título - "Correram lágrimas de saudade e de muito orgulho na histórica cerimónia do emotivo adeus a Macau" - remetia para a ambiência testemunhada pelos seus enviados, Domingos de Andrade (texto) e João Paulo Coutinho (fotos).
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"O encanto estava programado para se desfazer, com o arriar da bandeira portuguesa, quando faltavam três minutos para a meia-noite, Jorge Sampaio saiu rapidamente das cerimónias conjuntas da transferência de poderes em Macau, abençoadas junto ao jardim ribeirinho pela estátua da deusa Kun Iam", começa a reportagem. A foto do texto principal mostra os presidentes chinês, Jiang Zemin, e português, Jorge Sampaio, breve aperto de mão protocolar (oito segundos, cronometrou o JN) que "selou o fim da presença portuguesa no território desde o ano de 1513", ano da chegada do navegador Jorge Álvares ao que foi o primeiro entreposto europeu na China.
Segundo o testemunho do repórter, "Sampaio não se deixou ofuscar pela emoção do momento", aproveitando para "avisar que Portugal vai continuar atento". Para Portugal, "não se trata apenas de realizar, de forma solene, a transferência para a República Popular da China do exercício de soberania sobre Macau. Mas de lembrar o empenho solidário no futuro do território", que é, vincou, "um palco privilegiado do encontro de gentes e culturas com interesses tão diversificados".
A peça enfatiza o "compromisso firme", segundo Sampaio, "de que os habitantes do território continuarão a gozar dos direitos, liberdades e garantias, que são património da sua maneira de viver e fizeram a singularidade desta terra". E a resposta de Zemin: "a amizade e a cooperação entre os povos chinês e português vão desenvolver-se para a frente, a partir de um novo ponto de partida".
O JN relata o momento em que o último governador português de Macau, Rocha Vieira, "assistia, com o olhar perdido lá longe, ao lento arriar da bandeira (no Palácio da Praia Grande), até a receber e se despedir de uma multidão que batia palmas sem conter as lágrimas".