A política "zero casos" defendida pela China levou ao confinamento parcial ou total de mais de 30 regiões do país. Milhões de chineses estão fechados em casa e muitos começam agora a ficar sem comida e bens essenciais.
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"Já passaram 15 dias, estamos sem farinha, arroz, ovos. Há dias, ficámos sem leite para as crianças", revelou um residente de Xinjiang à BBC. A região no noroeste da China está em confinamento desde agosto devido ao aparecimento de casos de covid-19 e é uma das mais afetadas pela escassez de comida e medicamentos.
Num vídeo publicado na rede social Weibo, um homem, bastante emocionado, confessou que os três filhos não comiam há três dias. Os habitantes da cidade de Yining divulgaram um documento online com mais de 300 pedidos de ajuda urgentes de alimentos, medicamentos e pensos higiénicos.
"Estou sem dinheiro para comprar mantimentos. A minha mulher está grávida e temos dois filhos. Estamos a ficar sem gasolina e a minha mulher precisa de um exame médico", disse um residente citado pela estação.
Na província de Guizhou, as autoridades encerraram sem aviso prévio uma zona da capital Guiyang, aprisionando mais de 500 mil residentes em casa sem possibilidade de se prepararem para o confinamento. Até os elevadores dos prédios foram desligados de modo a impedir as pessoas de saírem, segundo noticiou o jornal britânico "The Guardian".
"Não podemos fazer compras online porque não entregam e os supermercados estão fechados. Estará o governo a tratar-nos como animais, ou será que só querem que a gente morra?", questionou um utilizador da Weibo, citado pelo jornal britânico.
Os surtos de covid-19 levaram também ao bloqueio de dois meses de Xangai, a "capital" financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Guangzhou. As autoridades decretaram recentemente o confinamento total de Chengdu, cidade com mais de 21 milhões de habitantes, e o bloqueio parcial de Guiyang e Shenzhen.
A política de "zero casos" consiste no isolamento de todos os infetados e dos seus contactos próximos em hospitais ou instalações designadas para o efeito, o controlo rigoroso das fronteiras, campanhas massivas de testes PCR, e o bloqueio de bairros, distritos e cidades inteiras. Cerca de 65 milhões de chineses estão atualmente confinados total ou parcialmente em 33 regiões do país.
Na quarta-feira as autoridades de saúde do país asiático insistiram que a estratégia é "a mais económica e científica" porque, "deteta rapidamente novas infeções e contém a propagação com o menor custo e o mais rapidamente possível".
De acordo com os números oficiais, desde o início da pandemia, 246 328 pessoas testaram positivo para o vírus na China e 5226 morreram.
Os anúncios de pré-confinamento tinham causado o caos nas ruas e nos supermercados em muitas cidades do país.