Sete membros da World Central Kitchen morreram, esta terça-feira, enquanto tentavam entregar alimentos na Faixa de Gaza. Contudo, estes trabalhadores humanitários não são os únicos que partiram em missão. Em apenas seis meses de guerra, já foram abatidas quase 200 pessoas pertencentes a organizações não governamentais.
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A morte de sete membros da organização World Central Kitchen (WCK) enquanto tentavam distribuir comida à população palestiniana chocou o Mundo, mas não é caso único. Quase 200 trabalhadores humanitários de diferentes organizações não governamentais (ONG) que operam na Faixa de Gaza já perderam a vida desde outubro, altura em que Israel deu início a uma ofensiva no enclave.
Os corpos dos voluntários da WCK saíram esta quarta-feira da Faixa de Gaza, através da passagem de Rafah, segundo as autoridades locais e de saúde.
Dados disponibilizados pela ONU, citados pelo jornal espanhol "El País", mostram que 196 trabalhadores humanitários morreram entre o início de outubro e o dia 20 de março. De acordo com o coordenador humanitário da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados, Jamie McGoldrick, a maior parte dos visados são quase todos palestinianos que trabalham para agências das Nações Unidas ou para outras organizações como é o caso do Crescente Vermelho, o principal serviço de emergência sediado no enclave.
O último relatório do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, datado de 13 de março, mostra o impacto desproporcional da guerra na Agência para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), o "coração pulsante da resposta humanitária em Gaza", nas palavras do subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários e coordenador de ajuda de emergência das Nações Unidas, Martin Griffiths. Dos 174 mortos no seio das agências da ONU, 171 eram da UNRWA.
"Não é um incidente isolado"
Nos últimos meses, a UNRWA tem relatado situações de maus tratos e humilhações aos seus funcionários em centros de detenção israelitas, estimando que mais de 150 das suas instalações tenham sido atacadas, com algumas a ficarem completamente destruídas. Os responsáveis da agência queixam-se que o Exército israelita está impedir os trabalhadores de cumprirem a sua missão, uma vez que os veículos da organização estão a ser travados na hora de atravessar postos de controlo.
No fim de março, as autoridades israelitas negaram, pela primeira vez, autorização de entrada na Faixa de Gaza ao diretor da agência. A ação foi interpretada como uma retaliação do Estado hebraico depois de ter acusado 12 funcionários da UNRWA (que conta com 13 mil colaboradores só no enclave palestiniano) de estarem envolvidos no ataque do Hamas de 7 de outubro.
Segundo Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, a Faixa de Gaza é agora "um dos locais de trabalho mais perigosos e difíceis do Mundo". O número de trabalhadores humanitários que já morreram neste conflito é cerca de três vezes supeior ao alcançado por outros conflitos no Mundo, como na Síria, Afeganistão ou Somália, no seu ano mais mortal, apontou Jamie McGoldrick, lembrando que o ataque de drones que, na terça-feira, vitimou sete pessoas "não é um incidente isolado".
Ajuda humanitária suspensa
Este tipo de incidentes está a causar um medo generalizado no seio das organizações que estão a atuar no território palestiniano, levando ao cancelamento das operações humanitárias. A própria WCK, fundada em 2010 pelo chefe José Andrés, anunciou que ia suspender a ajuda em Gaza após a morte dos sete funcionários, colocando em causa a entrega de milhares de refeições no enclave. Seguiu-se a American Near East Refugee Aid, outra ONG com sede nos EUA, que também anunciou a interrupção das entregas de alimentos por questões de segurança das equipas.
Apesar do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter dito que o incidente "não foi intencional" e que é algo "que acontece em tempo de guerra", as autoridades israelitas revelaram que estão a investigar as circunstâncias exatas em que ocorreu a morte das sete pessoas. Isto porque, em qualquer conflito, costuma haver um código de coordenação entre as organizações humanitárias e o Exército, de modo a que se evite este tipo de situações.
Em Gaza não é diferente e sempre que alguma equipa de ajuda à população se desloca para o território em conflito são fornecidas às forças informações sobre as datas que em irão atuar, bem como as rotas e os locais que serão usados para chegar à população.