Corpos foram recuperados depois de os barcos, oriundos da África Subsaariana, terem virado ao largo da costa da Tunísia
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Foi o fim da linha para 29 migrantes que ontem perderam a vida no mar, atraiçoados pela fragilidade das embarcações em que seguiam, ao largo da costa tunisina. Tragédia infinitas vezes replicada, terceiro naufrágio mortal em 72 horas, segundo o porta-voz do Fórum Tunisino para os Direitos Económicos e Sociais, Romdhane Ben Amor, num país que tem servido como importante canal para os migrantes que tentam chegar às costas europeias.
A guarda costeira tunisina indicou ontem, em comunicado, que "resgatou 11 imigrantes ilegais de várias nacionalidades africanas depois de os seus barcos terem afundado" na costa Leste central, assinalando três naufrágios, segundo a agência noticiosa France-Presse (AFP).
Uma traineira de pesca tunisina recuperou, numa das embarcações, 19 corpos, a 58 quilómetros da costa, depois de o barco ter virado. Uma patrulha da guarda costeira, na cidade de Mahdiya, recuperou oito corpos e resgatou 11 migrantes, depois de a embarcação se ter afundado na rota para Itália. Outras traineiras de pesca recuperaram dois corpos em Sfax.
As circunstâncias trágicas de ontem aconteceram pouco depois de, na sexta-feira, cerca de 30 organizações terem acusado o Ministério do Interior tunisino de reprimir as campanhas humanitárias para ajudar os migrantes.
Acusações que surgem após declarações incendiárias do presidente do país, Kais Saied, que acusou estas organizações de colocarem em causa a identidade "árabe-muçulmana" da Tunísia.
Segundo a AFP, Kais Saied acusou os africanos subsaarianos de representarem uma ameaça demográfica e de causarem uma onda de crimes no país.
De acordo com a agência noticiosa francesa, os migrantes negros na Tunísia enfrentam um pico de violência desde as declarações de Saied, e centenas vivem nas ruas há semanas, em condições cada vez mais desesperadas.
A Tunísia tem servido há anos como trampolim para tentativas tantas vezes perigosas de alcançar uma vida melhor na Europa, para muitos daqueles que fogem de contextos de pobreza extrema, fome e violência na região do Darfur, no Sudão, e em tantos outros pontos do continente africano.
Resgate sob tiros
Já na costa da Líbia, a guarda costeira disparou no sábado tiros de alerta sobre uma embarcação humanitária que, em resposta a um pedido de socorro, tentava resgatar um barco de borracha com migrantes, segundo o grupo de resgate SOS Mediterranee, citado pela agência Lusa. O mesmo grupo assegurou que a guarda costeira devolveu 80 destes migrantes a território líbio. A guarda costeira da Líbia é treinada e financiada pela UE para conter o fluxo de migrantes para a Europa.