No auge da crise da Covid-19, Nelson Teich assume o cargo mais delicado do Brasil. O médico e empresário foi escolhido por Jair Bolsonaro para encabeçar a pasta da Saúde, depois da saída de Luiz Henrique Mandetta. Mas nem todas as ideias do novo ministro vão ao encontro das defendidas pelo presidente.
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Depois de semanas de divergências sobre a estratégia de combate à pandemia de Covid-19, Jair Bolsonaro afastou Luiz Henrique Mandetta e nomeou Nelson Teich para liderar o combate da crise brasileira. O oncologista de 62 anos foi consultor na campanha presidencial e já tinha sido indicado para o cargo no final de 2018.
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Teich, que também é empresário, afirmou que existe um "alinhamento completo" entre si e o presidente. Jair Bolsonaro quer evitar divergências públicas com o novo ministro. Ainda assim, ambos têm visões diferentes sobre alguns temas.
Isolamento vertical versus isolamento horizontal
O isolamento social como medida de contenção do novo coronavírus motivou grande parte do conflito entre Bolsonaro e Mandetta. O novo ministro da Saúde também tem uma posição diferente da defendida pelo presidente, e explicou-a em vários artigos publicados na sua página do Linkedin.
Nelson Teich considera que o isolamento horizontal, ou seja, o isolamento de todos aqueles que não executem atividades essenciais, é a forma mais eficaz para lidar com a pandemia da Covid-19. "Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada económica do país", pode ler-se no artigo publicado no início do mês na rede social.
Por outro lado, Jair Bolsonaro defende o isolamento apenas dos cidadãos dos grupos de risco, como pessoas acima dos 60 anos. "Essa estratégia também tem fragilidades e não representaria uma solução definitiva para o problema", escreveu Teich sobre o isolamento vertical defendido pelo presidente.
O novo ministro da Saúde já se pronunciou sobre o isolamento e afirmou que não haverá uma "definição brusca e radical" sobre a orientação dada aos brasileiros. Nelson Teich disse que o mais importante é "decidir qual a melhor ação, entender o momento e definir qual a melhor forma de isolamento" de acordo com as informações que vão sendo recolhidas dia após dia. Para isso, Teich apontou a necessidade de testes em massa à população, medida defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Uso de hidroxicloroquina
Jair Bolsonaro é um conhecido entusiasta do uso generalizado da cloroquina, medicamento para a malária, no tratamento de doentes com Covid-19, apesar de não haver evidências científicas que comprovem o benefício no combate à doença. O presidente disse que o medicamento já salvou brasileiros.
A posição de Nelson Teich é mais cautelosa. O oncologista prefere não apontar o medicamento como solução para a pandemia sem estudos que o comprovem, e referiu isso mesmo durante a sua apresentação como novo ministro da Saúde, que decorreu na quinta-feira no Palácio do Planalto.
Sem falar da cloroquina, o ministro afirmou que os medicamentos para a Covid-19 serão tratados de forma "absolutamente técnica e científica". Nessa altura, Jair Bolsonaro mostrou-se, pela primeira vez, menos convicto em relação à utilização da cloroquina: "Comprovação é lá na frente".
Saúde versus Economia
Nelson Teich é médico oncologista e fundou, em 1990, o Centro de Oncologia Integrado. É também empresário, consultor na Teich Health Care e doutorado em Economia. O atual ministro da Saúde rejeita a bipolarização entre as duas áreas, Saúde e Economia, e aproxima-se mais do pensamento de Bolsonaro.
"Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem antagónicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o mal", escreveu também no Linkedin.
Na quinta-feira, Teich defendeu que a Saúde e a Economia "não competem entre si, elas são completamente complementares".
No discurso da tomada de posse, Nelson Teich colocou o foco nas pessoas. "Foco que a gente tem aqui, e tudo que a gente vai fazer, é nas pessoas. Por mais que você fale em saúde, por mais que você fale em economia, não importa o que você fala, o final é sempre gente".