É um nome sem rosto nem rasto nos ficheiros do terrorismo islamista. É um nome anunciado sem uma voz sequer, a não ser a do leitor do comunicado do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) publicado na rede Telegram dando conta da escolha de um novo líder cinco dias depois da morte do anterior, Abu Bakr al-Baghdadi. É Abu Ibrahim al-Hachimi al-Qurachi e pode muito bem ser um nome falso (al-Baghdadi também adotara um novo) ou nem ser de ninguém. As teorias abundam.
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O novo "califa" - foi assim anunciado, como "líder de todos os muçulmanos" e não só do EI - foi dado a conhecer quinta-feira, numa mensagem áudio em que a organização terrorista confirma a morte de al-Baghdadi e ameaça os EUA, líderes da operação que decapitou o grupo, de represálias.
Decomposto, o nome de guerra significa "pai de Ibrahim" (Abu Ibrahim), o que, segundo o investigador francês Romain Caillet, citado no "Le Parisien", pode ser uma referência ao profeta (Abraão) ou ao próprio al-Baghdadi, cujo verdadeiro nome era Ibrahim Awad Ibrahim Al-Badri. Aliás, no dia 29 de junho de 2014, aquando da proclamação do califado, al-Baghdadi era citado pelo porta-voz como tendo dito ser "o cheikh, o mujaedine, o imã, o devoto, a revivificador descendente da linhagem profética, o servidor de Deus Ibrahim Ibn Iwad, Ibn Ibrahim, Ibn Ali, Ibn Muhammad al-Badri al-Hachimi al-Housayni al-Qurachi por descendência".
Descendente do profeta
Os nomes repetem-se, portanto. Al-Hachimi al-Qurachi, explicam analistas ao "The New York Times", faz referência à descendência direta de Maomé e da tribo Quraysh e à dinastia Hachemita (a da monarquia da Jordânia). Portanto, pouco esclarecedor.
Sobra o facto de o EI ter perdido toda a réstia de território em abril e, uns atrás dos outros, todos os nomes da sua cúpula, mortos em ataques no Iraque e na Síria. Ou seja, pode não ter restado ninguém que concentre em si só capacidade de liderança. "Pode tratar-se de uma identidade-fantoche, atrás da qual haverá um grupo de pessoas", diz ao mesmo jornal o especialista em propaganda islamista Asiem El Difraoui. Até porque o comunicado do EI dá conta de que a "assembleia consultiva" do grupo jurou fidelidade a al-Qurachi. v