As alegadas tentativas de invasão da Venezuela por mar para derrubar o presidente Nicolás Maduro, perpetradas por ex-militares de elite norte-americanos a soldo de uma empresa de segurança que gere mercenários, prometem dar um novo ânimo à estacionada crise política venezuelana, que se atardava há ano e meio entre a desacreditada esperança da oposição de promover a viragem via um governo de transição liderado por Juan Guaidó, que nunca existiu, e a fortalecida firmeza de Maduro, que continua no poder.
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As declarações de um dos ex-militares americanos detidos por Caracas, gravadas em vídeo, são claras. Serão espontâneas? A equipa de Guaidó garante não ter contrato nenhum com a Silvercorp, mas um dos seus assessores admite que houve contactos. Os EUA e a Colômbia, acusados de conluio, também negam.
Luke Denman foi detido no domingo no porto de La Guaira, numa operação que se estendeu a segunda-feira e resultou em oito mortes e na prisão de outro norte-americano, Airan Berry, e de militares dissidentes venezuelanos que tentavam uma invasão marítima. Era o homem a quem competia assegurar o controlo do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital venezuelana e está próximo do porto de La Guaira. "Havia três pequenos grupos. No total, havia 60 a 70 homens. Tinha de assegurar o controlo do aeroporto para podermos fazer o transporte seguro de Maduro até ao avião", confessou Luke Denman aos interrogadores venezuelanos.
Plano ou não?
O plano terá sido desenhado por Jordan Goudreau, antigo membro dos "boinas verdes" (força especial do exército dos EUA), e incluiria o nome de Guaidó. Goudreau já fora mencionado em planos ligados à Venezuela, envolvendo o militar dissidente venezuelano Cliver Alcalá, e o treino de desertores na Colômbia. Ora, quer Goudreau é investigado por tráfico de armas nos EUA, quer Alcalá foi recentemente incluído numa lista de cabeças venezuelanas a prémio elaborada por Washington, nos acusados de narcoterrorismo. Este último acabou por entregar-se aos colombianos e seguir para os EUA para "colaborar" com a Justiça norte-americana - aproveitando para implicar Guaidó num projeto de golpe contra Maduro. Alcalá denunciou então os nomes do assessor de Guaidó, J. J. Rendón, e de dirigentes opositores.
Agora, Maduro denuncia um contrato assinado por Guaidó, Rendón e o opositor Sergio Vergara. E, à CNN, Rendón admite ter assinado um documento com Goudreau, a quem pagou 44 mil euros para que elaborasse um plano de "captura e entrega à Justiça de membros do regime". A ideia era, garante, "exploratória" de um dos "cenários possíveis para o fim da usurpação" (do poder por Maduro, cuja eleição sem candidatos opositores é tida por Guaidó como ilegal), e o acordo "nunca chegou a ser executado". J. J. assegura que Guaidó não assinou nada e que os documentos mostrados por Maduro são apenas parte do contrato: sete de oito páginas de acordo a que se somam 42 páginas de anexos. v