A inalação de acetato de vitamina E estará na origem do surto de mortes nos Estados Unidos relacionado com o uso de cigarros eletrónicos. Nos últimos meses, morreram pelo menos 39 pessoas, a maioria jovens, com graves danos pulmonares. Centenas ficaram hospitalizadas, em estado grave.
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A conclusão foi avançada pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC) norte-americano, depois das análises a amostras pulmonares de 29 pacientes, incluindo dois que morreram, terem todas revelado a presença de acetato de vitamina E.
O tetrahidrocannabinol (THC) - princípio ativo responsável pelos efeitos psicotrópicos da canábis - foi encontrado em 80% dos doentes e a nicotina em 62%.
"Detetamos uma substância química potencialmente preocupante, acetato de vitamina E, que foi encontrada em amostras biológicas de pacientes com danos nos pulmões", disse Anne Schuchat, vice-diretora do CDC.
Usado como componente dos líquidos com THC
Os especialistas não sabem ainda explicar como atua o acetato de vitamina E, mas adiantam que o químico tem uma textura pegajosa e oleosa que, quando inalada, adere ao tecido pulmonar. É usado como um componente na produção de líquidos ilegais para cigarros eletrónicos, contendo THC. A substância não está aprovada na Europa.
"As últimas descobertas sugerem que os produtos que contêm THC, especialmente os fornecidos por amigos ou familiares, ou comprados na Internet, estão ligados à maioria dos casos estudados", conclui o estudo, o que justifica a recomendação para não usar produtos com THC nos cigarros eletrónicos, independentemente de onde foram comprados.
Dada a diversidade dos estados de origem dos pacientes, é improvável estar em causa um único produto ou fornecedor, acrescenta o relatório.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta que o uso destes dispositivos "é perigoso e não é recomendado".
Logo após as primeiras mortes confirmadas nos Estados Unidos por uso de cigarros eletrónicos, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) emitiu um parecer a alertar que o uso destes dispositivos "é perigoso e não é recomendado".
A SPP defende que a sua utilização deve ser especialmente evitada por grupos mais vulneráveis, como as crianças, adolescentes, adultos jovens, grávidas, idosos e doentes respiratórios crónicos.
"É especialmente perigosa a utilização de dispositivos adquiridos fora do comércio regulado, a sua utilização modificada ou a adição de líquidos ou óleos contendo derivados da cannabis ou outros aditivos", acrescentam os pneumologistas.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia aconselha os consumidores de cigarros eletrónicos que desenvolvam sintomas respiratórios agudos a procurar o médico e a fornecerem-lhe informação sobre o produto que consomem.
"Os médicos que assistem doentes com quadro clínico semelhante devem obter informação detalhada sobre o uso destes dispositivos e comunicá-lo às autoridades de saúde, em caso de suspeita", recomenda ainda a SPP.