Saman Yasin foi detido pelas forças de segurança iranianas, há três semanas, por participar nos protestos contra a morte de Mahsa Amini e manifestar-se contra o regime nas redes sociais. Acusado do crime de "guerra contra Deus", o rapper curdo poderá ser executado nos próximos dias.
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A história de Saman Yasin não é caso único no Irão. Tal como muitos outros, o jovem curdo foi retirado à força de casa, em Teerão, no dia 2 de outubro, e detido por ter uma participação ativa nas manifestações desencadeadas pela morte de Mahsa Amini, após a jovem de 22 anos ser presa pela polícia da moralidade.
Conhecido por ser um forte crítico do regime, o artista e rapper curdo escreveu mensagens de apoio aos manifestantes nas redes sociais, além de ser o autor de canções conhecidas por darem voz à opressão, ao desemprego e à fome que a República Islâmica do Irão enfrenta.
Segundo a organização Hengaw para os Direitos Humanos, o homem de 27 anos foi presente a tribunal, a 29 de outubro, sem advogado e nem os familiares puderam marcar presença na audiência. Saman Yasin foi acusado do crime de "Moharebeh" (Guerra contra Deus) e enfrenta agora a pena de morte. "Sabemos que o governo mata facilmente e condena os detidos à morte sem defesa", afirmou Soma Rostami, de Hengaw, ao "The Guardian". "Saman está em sério perigo e nós devemos ser a voz dele", acrescentou.
Detido na prisão de Even, na capital, e de acordo com fontes anónimas, o rapper foi alegadamente sujeito a tortura física e psicológica. O destino, que será decidido nos próximos dias pelos tribunais iranianos, é comum a milhares de outros manifestantes detidos, que também enfrentam pena de morte, enquanto as organizações de direitos humanos alertam para a campanha sangrenta que o regime poderá levar a cabo para tentar anular os protestos no país. As autoridades anunciaram que tencionam realizar julgamentos para mil manifestantes em Teerão.
"Nas últimas seis semanas, milhares de homens, mulheres e crianças - quase 15 mil pessoas - foram detidos. São defensores dos direitos humanos, estudantes, advogados, jornalistas e ativistas da sociedade civil", revelou Javaid Rehman, o relator da ONU sobre a situação dos direitos humanos no Irão, na quarta-feira, citado pelo "The Guardian". Pelo menos 328 morreram.
Os familiares de Toomaj Salehi, um músico e rapper de 32 anos, que também está detido após ter sido preso a 30 de setembro com dois amigos, afirmam que ele foi sujeito a "tortura severa" às mãos do regime por ter publicado canções de apoio aos manifestantes e por ter afixado imagens dele a cantar slogans contra as forças de segurança em Isfahan, no sul do país.
Na semana passada, duas jornalistas que ajudaram a quebrar a história da morte de Mahsa Amini foram denunciadas como espiãs da CIA pelas autoridades iranianas, uma acusação que implica a pena de morte.
Mahsa Amini morreu num hospital em 16 de setembro, três dias após ser detida pela polícia da moralidade por usar o véu islâmico alegadamente de forma incorreta. A indignação no Irão pela morte da jovem está a provocar a maior onda de protestos contra o Governo dos últimos anos.