As autoridades francesas decidem esta quarta-feira o futuro de "Txeroki", ex-líder militar da organização separatista basca ETA, suspeito de ser o mandante do ataque ao aeroporto de Madrid, há 15 anos, que quebrou um cessar-fogo e que terá sido o início do fim do grupo terrorista.
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No dia 30 de dezembro de 2006, a ETA atacava em força o terminal 4 do aeroporto de Barajas, em Madrid, assassinando duas pessoas, ferindo uma vintena e levando à demolição de parte da imponente instalação de cinco andares, inaugurada no início desse ano, fruto de um investimento de 6200 milhões de euros. Diego Armando Estácio e Carlos Alonso Palat, ambos equatorianos e trabalhadores da construção civil em Espanha, esperavam nos carros por familiares que tinham ido buscar ao aeroporto, quando uma carrinha carregada com entre 200 e 800 quilos de explosivos mandou pelos ares a esperança da reconciliação entre o grupo radical basco e o Governo espanhol. Passaram vários dias até que os dois corpos fossem recuperados dos escombros.
Em 2010, Igor Portu, Mattin Sarasola e Mikel San Sebastian foram condenados pela autoria do ataque a 1040 anos de prisão, por cúmulo jurídico (viriam a ser indemnizados em 30 e 20 mil euros depois de o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ter condenado Espanha por maus-tratos nas detenções). Mas vários anos depois do atentado ao aeroporto, da condenação do trio e de o grupo ter dado como terminada a atividade armada, o processo judicial ainda está em curso, com a justiça espanhola a reabrir o caso para investigar o alegado envolvimento de Mikel Garikoitz Aspiazu, então chefe máximo da ETA e suspeito de ter sido o mandante da operação.
"Txeroki", como é conhecido, foi detido em território francês em 2008 e mais tarde condenado no país a 20 anos de prisão por sequestro e fabrico de bombas. Em 2011, foi Espanha a condená-lo a 377 anos de prisão por vários crimes de tentativa de homicídio, incluindo de uma autarca basca, e terrorismo. Desde então, já foi entregue temporariamente à justiça espanhola para ser julgado noutros processos, como o do homicídio de um juiz, pelo qual acabou absolvido em 2019 por falta de provas. No final de outubro passado, o Tribunal de Recurso de Paris analisou 12 pedidos para voltar a entregar o basco de 48 anos a Espanha, incluindo um relativo ao ataque de 2006, aguardando-se, segundo a imprensa do país, uma decisão das autoridades francesas para esta quarta-feira.
"O passo mais equivocado e inútil"
Sem pré-aviso, contrariando o que tinha sido regra em ataques anteriores, o atentado do grupo radical separatista basco na capital espanhola, um dos últimos da organização independentista a provocar vítimas mortais, veio quebrar um cessar-fogo de nove meses com o Governo central, então liderado por José Luis Rodríguez Zapatero. A trégua tinha sido anunciada pela ETA em março, para "promover a construção de um novo quadro em que os direitos do povo basco" fossem reconhecidos, abrindo, através do diálogo com o Governo, uma porta de esperança que marcava o fim de décadas de violência. Mas nem 24 horas depois de o socialista ter demonstrado confiança no processo de paz iniciado, a ETA deu - nas palavras do então governante - "o passo mais equivocado e inútil" que poderia ter dado. Assim veio a revelar-se: a ETA foi perdendo força e apoiantes, com a cisão entre a organização radical e os políticos separatistas, entrando naquele que viria a ser o capítulo final da história do grupo.
Pormenores
Célula em Portugal
De acordo com uma investigação das autoridades espanholas, no início de 2010, a ETA preparava-se para montar em Portugal uma base de retaguarda da organização terrorista. Nesse ano, três integrantes da ETA foram presos em território nacional, um dos quais com supostas relações a uma fábrica de bombas desmantelada em Óbidos.
Mais de 850 mortes
A ETA ("Euskadi Ta Askatasuna", que em basco significa "País Basco e liberdade") foi uma organização nacionalista basca armada e o principal ator do chamado conflito basco. Foi criada em 1959 como um grupo de promoção da cultura basca. Mais tarde associado a centenas de ataques violentos, o grupo anunciou a sua dissolução em maio de 2018. No total, foram-lhe atribuídas 853 mortes em quatro décadas.

