
Pela primeira vez desde a guerra em Gaza, Belém retoma celebrações nas ruas
Foto: Hazem Bader / AFP
Cidade recebe peregrinos e fica decorada para a época natalícia, porém recentes episódios de violência lançam dúvidas sobre volta total do turismo.
Depois de dois anos com as luzes de Natal apagadas devido à guerra na Faixa de Gaza, Belém voltou a ter celebrações nas ruas. Mas o clima de tensão continua na cidade na Cisjordânia ocupada onde a tradição cristã diz que Jesus Cristo nasceu, já que Israel continua a expandir os colonatos no território palestiniano e, em Gaza, há uma trégua frágil.
Junto às decorações vermelhas e douradas na árvore instalada na Praça da Manjedoura, a poucos metros da Igreja da Natividade, luzes amarelas brilham.
"É como um símbolo de resiliência", descreveu à agência France-Presse (AFP) Abeer Shtaya, de 27 anos, que trabalha na Universidade de Ciência e Tecnologia Al-Zaytoonah, em Salfit, na Cisjordânia. Viajou 100 quilómetros com um grupo de estudantes para ver a inauguração das celebrações, que ocorreu no dia 6 de dezembro.
O autarca Maher Nicola Canawati, em declarações à estação Al Jazeera, contou que recebeu uma mensagem de Leão XIV em que o Papa afirmou que "leva Belém no seu coração e nas suas orações e está a trabalhar para o fim do sofrimento palestiniano". O Pontífice norte-americano apelou ainda aos residentes de Gaza a "não se entregarem ao desespero".
O Patriarca Latino de Jerusalém, o cardeal Pierbattista Pizzaballa, chegou ontem à cidade para celebrar a tradicional Missa do Galo, poucos dias após ter visitado Gaza. "Estas celebrações representam mais uma esperança para o nosso povo em Gaza... de que um dia poderão voltar a celebrar e a viver as suas vidas", definiu à AFP Katiab Amaya, membro dos escuteiros, de 18 anos.
Peregrinos cristãos começaram a regressar, com algumas reservas feitas para este período natalício e para o próximo ano, revelou à mesma agência Fabien Safar, guia e organizador de peregrinações à Terra Santa. Admite que os turistas "continuam com medo", mas espera que a recuperação dos números ganhe fôlego em 2027 - a depender "obviamente da evolução da situação" em Gaza e no Líbano.
"A covid foi má, mas nada comparado com os últimos dois anos", revelou Mike Shahen, dono de uma loja de cerâmica. Na Cisjordânia ocupada, com o início da guerra em Gaza, Telavive dificultou as deslocações, com turistas a enfrentarem horas de filas em pontos de verificação militares israelitas.
Fiéis regressam e visitam Igreja da Natividade
Juventude sob a mira
O cerco à Belém nas últimas semanas é exemplificado com vários casos. Em Aida, a dois quilómetros do centro histórico, um campo de futebol em que mais de 500 jovens treinam recebeu um aviso de demolição - uma prática comum de Israel, que alega falta de autorizações. Mas a construção no terreno cedido pela Igreja Arménia é legal, asseguram à AFP ex-autoridades locais.
No dia 16, a agência oficial palestiniana Wafa noticiou a morte de um adolescente de 16 anos, atingido por um colono israelita logo após o funeral de outro jovem da mesma idade, morto pelas forças de ocupação a sudeste de Belém. Tudo isto no mesmo mês em que Telavive aprovou mais 19 colonatos na Cisjordânia.
