
Corpos foram colocados em carruagens supostamente com capacidade para refrigeração
Maxim Zmeyev/reuters
Quando só falta resgatar 27 corpos e restos de outros 20 passageiros do MH17, o acesso ao local da tragédia continua a ser dificultado pelos rebeldes ucranianos, contra os quais há já provas da autoria do atentado.
Tablets, telemóveis ou computadores portáteis. Existem na Ucrânia, é claro. Porém, tantos rebeldes ucranianos com tais equipamentos nas mãos, ao longo dos cinco quilómetros onde caiu a maioria dos bens dos 298 passageiros da Malaysia Airlines, é mais um sinal de que o grupo separatista continua a dominar o cenário do acidente na região de Donetsk.
Pierre Crom, fotojornalista da ANP - a agência noticiosa holandesa - descreveu, ontem, aquele cenário ao jornal "De Telegraaf". "Todas as malas estão abertas e vazias. Há muito a ser saqueado", disse, aludindo ainda ao facto de mineiros que ajudaram nas buscas, entre os campos de girassóis e a densa floresta, também se mostrarem com alguns equipamentos.
Apesar de permitirem à missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) aceder ontem às carruagens frigoríficas, onde os corpos estão a ser empilhados, na cidade de Torez, os separatistas continuam a estabelecer as regras: não deixam ninguém circular livremente na área, muito menos as autoridades ucranianas.
Com ajuda de 800 mineiros, socorristas e populares, os rebeldes levaram para o comboio 192 corpos e oito membros. O porta-voz da OSCE, Michael Bociurkiw, admitiu que 27 corpos e partes de outros 20 estão no terreno à espera de um segundo comboio. "O mau cheiro é absolutamente esmagador. Não quero ser demasiado dramático, mas é uma cena muito difícil de assistir", frisou.
Segundo Leonid Baranov, líder rebelde, os comboios irão para Mariupol, uma cidade a sul de Donetsk controlada pelo Governo ucraniano. "Kiev está a levar tempo a tomar uma decisão", disse, sem referir o paradeiro dos 38 corpos que rumaram a Donetsk para serem autopsiados.
Provas avolumam-se
Outro líder do grupo, Alexander Borodai, admitiu que os seus militares terão encontrado "algum material que poderá ser as caixas-negras" do avião, depois de horas antes ter dito o contrário e até ter condicionado o trabalho dos peritos internacionais.
Os Estados Unidos já não tem dúvida de que o abate do avião foi autoria dos rebeldes. Mas novas provas dos serviços de segurança norte-americana apontam para a colaboração da Rússia. Terá sido para este país que os separatistas tentaram arrastar vários mísseis após a tragédia.
A Kharkov (Carcóvia), no leste da Ucrânia, chegou já de noite uma equipa holandesa, que terá a responsabilidade de coordenar a identificação e o repatriamento das vítimas do Boeing 777, segundo um anúncio feito pelo primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, às centenas de familiares das vítimas que aguardam no aeroporto de Schiphol (Amesterdão).
"Estou no aeroporto, há dois dias, à espera de quaisquer notícias", confessou, ao JN, ontem, Paul de Roo, de Haia, que perdeu no voo o pai. "Passo o tempo todo a chorar quando penso que o corpo dele está caído algures naquele local terrível", explicou.
