Um soldado russo morreu em confrontos em Mbau, Mocimboa da Praia, na província de Cabo Delgado. A informação foi confirmada por várias fontes do JN na zona. No local, havia marcas de sangue e a roupa da vítima. Tentamos contactar a embaixada russa em Maputo, mas não obtivemos resposta. O número de vítimas pode ser superior.
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O Ministério da Defesa confirmou, em comunicado, atividade militar na noite de 7 para 8 de outubro, "contra malfeitores", na região de Mbau, com o "aniquilamento" de "um número considerável de malfeitores", "destruição do acampamento e fuga desordenada".
"Drones" e helicópteros
A chegada de militares russos, negada pelo Kremlin, foi revelada nas redes sociais a meio de setembro. Segundo uma fonte local do JN, são cerca de 160 militares, para apoiar as forças moçambicanas contra insurgentes e para formação militar, tendo entrado "drones" e helicópteros. O vice-ministro da Defesa, Patrício José, não confirmou nem desmentiu à agência Lusa as indicações, mas disse que Moçambique mantém "consultas" com vários parceiros no domínio da defesa, num "trabalho normal das Forças Armadas".
No final de agosto, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, encontrou-se com o homólogo russo, Vladimir Putin. Além de um perdão de 95% da dívida, obteve acordos sobre produção de eletricidade e mais áreas de prospeção de gás e petróleo.
"A cooperação económica e militar começou a ser executada em dezembro de 2015, quando foi assinado o primeiro acordo, visando cooperação militar com a aquisição de equipamento militar por Moçambique, como parte do seu processo de modernização", explica ao JN Jovana Ranito, investigadora da Universidade do Porto.
A principal zona operacional de forças russas é Mocimboa da Praia, apurou o JN. Desde 2017, eclodiram ataques armados por grupos criados em mesquitas "insurgentes". Já terão morrido cerca de 250 pessoas, em aldeias isoladas e no mato. A violência atingiu também transportes na principal estrada da região e em áreas de megaprojetos de exploração de gás, onde vários países como a Rússia têm interesses.
Apesar de indícios de ações do "Estado Islâmico", analistas responsabilizam grupos que visam desestabilizar a região, importante para o tráfico de droga, recursos naturais e de órgãos.
"A cooperação com a Rússia visa apoio técnico, nomeadamente na formação das tropas e de estratégias no combate às insurgências que têm sido uma constante no norte", explica Jovana. Os acordos contemplam uma base militar russa no Norte do país e a livre entrada de navios militares da Rússia nos portos moçambicanos.
"Apólice de seguro"
Parte do reforço russo está relacionado com Rosneft, uma das maiores petrolíferas do Mundo, cujo maior acionista é o Estado russo, com explorações no norte de Moçambique. "Nesse contexto, a base faz sentido como mais uma "apólice de seguro" de que o investimento russo será protegido", nota Jovana. A chegada de militares e armamento russo levantou a hipótese de tratar-se de elementos da Wagner, uma empresa de segurança com ligações ao Kremlin para proteger as instalações da Rosneft. "Se acontecer, duvido que será feita com grande exposição na chegada ao país", refere.
Eleições
Treze milhões vão às urnas após campanha violenta
Mais de 13 milhões de eleitores moçambicanos escolhem hoje o Presidente da República, 250 deputados ao Parlamento, e dez governadores e assembleias provinciais. Nas sextas eleições gerais, concorrem quatro candidatos presidenciais e 26 partidos. Segundo a Polícia, a campanha eleitoral foi marcada por 19 mortes - nove em acidentes com caravanas partidárias, e dez num incidente em Nampula, onde uma multidão saiu de forma desordenada de um comício. A organização Centro de Integridade Pública fala em 44 mortos, parte devido aos acidentes, mas também por violência.