Cerca de 50 mil pessoas que aguardam asilo em território britânico queixam-se das más condições dos alojamentos do ministério do Interior, vistos como locais de "segregação racializada e detenção". As revelações foram feitas no novo relatório da organização "Refugee Action".
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O mais recente relatório da "Refugee Action", instituição que apoia refugiados e requerentes de asilo no Reino Unido, põe a nu a crueldade de um sistema que não dignifica a vida humana. Ao todo, foram recolhidos 100 testemunhos de requerentes de asilo em hotéis de Londres, Manchester, West Midlands e Bradford, todos sobre a alçada do ministério do Interior britânico, onde são expostas as más condições dos alojamentos, sobrelotação dos espaços e a falta de qualidade dos alimentos.
Os queixosos estão ainda a ser ameaçados: ou se calam ou serão enviados para o Ruanda, a mais de 6500 quilómetros do Reino de Sua Majestade.
Intitulado de "Alojamento hostil: Como o sistema de asilo é cruel", o relatório releva ainda que os refugiados estão proibidos de fotografar a comida que lhes é servida e caso se queixem da qualidade da mesma podem ser surpreendidos pela polícia. Tendo como base entrevistas a adultos e famílias, o documento concluiu também que o sistema de alojamento - com mais de 50 mil requerentes de asilo em hotéis - é "um sistema nacional de segregação racializada e detenção de facto".
Os requerentes de asilo estão a ser alojados em hotéis por períodos cada vez mais longos. Um em cada três adultos e mais de uma em cada quatro famílias com crianças estão alojados em hotéis há mais de um ano, como aconteceu com uma família de seis pessoas.
"O governo está a gerir um sistema de detenção - detendo e segregando pessoas que procuram asilo em alojamentos que estão a prejudicar a sua saúde mental e física. Este sistema desmoralizador e brutal custa milhões por dia aos contribuintes, mas gera enormes lucros aos empreiteiros que, demasiadas vezes, não conseguem tornar a habitação habitável", disse Tim Naor Hilton, diretor da "Refugee Action", ao "The Guardian".
As preocupações mencionadas no relatório abordam também a sobrelotação dos espaços, falta de privacidade, desnutrição, fome e falta de acesso à educação. De acordo com o relatório, há inúmeros casos de mães incapazes de continuar a amamentar porque estão desnutridas devido à comida dos hotéis.
As infestações de pragas são comuns, assim como a humidade, bolor e inundações.
A "Refugee Action" está a apelar ao governo que financie as ONG's para conseguirem ajudar na crise do alojamento, em vez de entregar a gestão dos processos ao atual grupo de empresas privadas que ganham milhões com os contratos feitos com o governo de Sunak.
"Não reconhecemos as acusações do relatório que sugerem hospitalizações, ameaças de deportação ou restrição de movimentos, mas quando são levantadas preocupações sobre qualquer aspeto do serviço prestado pelo hotel, trabalhamos com o fornecedor para assegurar que estas sejam tratadas atempadamente", afirmou um porta-voz do ministério do Interior, citado pelo jornal britânico.
Acordo com o Ruanda
Boris Johnson anunciou um acordo com o Ruanda, em abril do ano passado, onde as pessoas que entrassem ilegalmente no Reino Unido seriam deportadas para aquele país de África Oriental. Em troca, o Ruanda iria receber milhões de libras.
O primeiro voo de deportação estava agendado para junho de 2022, mas foi cancelado após uma intervenção de última hora do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que decidiu haver "um risco real de danos irreversíveis" aos requerentes de asilo.