Lana Huf-Germain conseguiu o seu final feliz num ensaio clínico trágico que acabou com a morte de 11 bebés. Foi tudo rápido e intenso: "Nem me lembro do que assinei. Foi um turbilhão de emoções".
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O testemunho de Lana, divulgado esta quinta-feira pelo jornal "The Guardian", é uma nova luz sobre o que se terá passado no ensaio levado a cabo pelo Centro Médico Universitário de Amesterdão, Holanda, e que colocou 93 mulheres a tomar sildenafil, substância vendida sob o nome Viagra, com a promessa de que ajudaria no crescimento de bebés no útero.
Foi na ecografia da 20ª. semana de gravidez que Lana e o marido souberam que a filha não estava a desenvolver-se devidamente e que o sucesso da gravidez estava então comprometido. "Uma das primeiras coisas que nos disseram foi o facto de estar a decorrer um ensaio clínico que nos poderia ajudar. Veio um médico e explicou-nos, basicamente, como funciona o Viagra e pareceu-nos tudo muito plausível. Por isso dissemos: sim, claro, vamos a isso".
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Mas Lana conta agora que não se recorda de ter sido informada sobre todos os riscos. Acredita, contudo, que nem os próprios médicos tinham esse conhecimento. "Sei que é fácil para mim dizer isto, porque a minha filha está viva e eu estou bem, mas não consigo culpar os médicos". A bebé de Lana nasceu, prematuramente, há cerca de dois anos e tem vindo a crescer saudavelmente.
O mesmo não aconteceu com os 11 bebés que morreram na sequência do ensaio que começou em 2015. Houve mais mortes, mas, garante a equipa médica, sem qualquer relação com o medicamento. Como o coração nas mãos estão ainda entre dez a 15 mulheres, sem saber se os seus filhos vão viver ou morrer. Ou sobreviver com problemas de saúde. Ao fim de três anos, verificou-se que 17 bebés desenvolveram problemas pulmonares.
Lana fez parte do grupo de 90 grávidas que tomou medicação placebo. Ainda assim, muitas das gestantes deste grupo também acabaram por ter filhos com problemas pulmonares.
O líder do estudo, o ginecologista Wessel Ganzevoort, disse ao jornal holandês "De Volkskrant" que estava "chocado" com tudo o que aconteceu. Reafirmou as condições de segurança de todo o processo, mas garantiu que será feita uma investigação independente. Estava previsto que o ensaio terminasse apenas em 2020, mas, ao fim de 11 mortes, foi cancelado.
Sim, Lana teve o seu final feliz. Mas o desfecho trágico do caso afetou profundamente a sua família. O marido tem vindo a fazer terapia com um psicólogo para ultrapassar a situação. "Quando tem que se tomar uma decisão, parece que temos só duas opções: vivo ou morto. Acho que é por isso que as pessoas estão furiosas. Sentem-se responsáveis pela morte dos filhos".