O Mundo está a colher as aterradoras consequências das retóricas plenas de ódio que ameaçam normalizar a discriminação de grupos marginalizados, alerta a Amnistia Internacional, no seu relatório anual sobre direitos humanos.
Corpo do artigo
Ainda assim, a organização crê que um crescente movimento de experientes e neófitos ativistas a reclamar justiça social dá uma esperança real de inverter a rota rumo à opressão.
"Os espetros do ódio e do medo assombram atualmente as questões mundiais e poucos governos lutam pelos direitos humanos. Em vez disso, líderes como al-Sisi, Duterte, Maduro, Putin, Trump e Xi minam, com indiferença, os direitos de milhões de pessoas", refere Salil Shetty, secretário-geral da Amnistia Internacional.
"A fraca resposta face aos crimes contra a Humanidade e crimes de guerra em Myanmar, no Iraque, no Sudão do Sul, na Síria (ler texto abaixo) e no Iémen sublinha a falta de liderança no que respeita aos direitos humanos."
A decisão dos EUA de banir a entrada de cidadãos de várias nações de maioria muçulmana no país "serviu de introito a um ano no qual os líderes levaram a política do ódio à mais perigosa conclusão". "Vimos a derradeira consequência de uma sociedade encorajada para odiar e temer minorias na horrível campanha militar de limpeza étnica dos rohingyas em Myanmar."
Descontentamento social
Outros sinais de regressão citados no relatório incluem restrições ao direito ao protesto em França e tentativas de retirar direitos às mulheres nos Estados Unidos, Rússia e Polónia, por exemplo. Além disso, a Amnistia Internacional avisa que os passos atrás do presidente norte-americano, Donald Trump, em termos de direitos humanos estão a abrir um perigoso precedente.
Por outro lado, ainda segundo o documento, países como Austrália e Hungria, entre diversos outros, tratam os refugiados e os migrantes "como problemas a ser evitados e não como pessoas com direitos que merecem a nossa compaixão".
O relatório também salienta que "milhões de pessoas em todo o Mundo enfrentam um crescente acesso precário a bens básicos, como habitação, comida e serviços de saúde". Nesse sentido, a Amnistia Internacional avisa que, "a não ser que os governos travem as causas implícitas à pobreza e à desigualdade, a probabilidade de ocorrerem tragédias humanas é enorme".
"Da Venezuela ao Irão, estamos a testemunhar um formidável alastramento de descontentamento social", realça Shetty. "Em vez de tentar silenciar as pessoas quando elas protestam, os governantes deveriam ouvir as suas preocupações, bem como aliviar as restrições sobre os media e a sociedade civil."
Austrália. Indígenas e migrantes visados
O sistema judicial continua a negligenciar os indígenas - em particular, as crianças -, com altos níveis de detenções e relatos de abusos e de mortes sob custódia policial. Mantém os migrantes confinados em centros na Papua Nova Guiné e Nauru.
EUA. Das proibições à violência armada
Ordens para proibir a entrada a cidadãos de países de maioria muçulmana levantaram sérias questões legais. Ataques aos direitos das mulheres e das raparigas. A prisão de Guantánamo continua aberta. Violência armada permanece em patamares altos.
França. Medidas sem total escrutínio legal
Uma nova lei aumentou os poderes do Governo para impor medidas antiterrorismo sem dados concretos e sem total escrutínio judicial. As autoridades continuam a reenviar cidadãos afegãos para o seu país, violando, assim, princípios internacionais.
Portugal. Acolhimento ainda inadequado
Condições de acolhimento de cidadãos de etnia cigana e de africanos continuam inadequadas. O Governo propôs legislação para reforçar a proteção dos direitos dos transexuais. O Parlamento alargou a ação contra a discriminação e os discursos de ódio.