Republicano de ala mais à Direita apresenta moção contra "speaker" Kevin McCarthy
O congressista Matt Gaetz apresentou, esta segunda-feira, uma moção para declarar vago o cargo de "speaker" da Câmara dos Representantes. A medida lançada pelo representante de uma ala mais extremista republicana ameaça o partidário Kevin McCarthy, que evitou, no fim de semana, uma paralisação do Governo de Joe Biden.
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“Tenho republicanos suficientes para que, neste ponto na próxima semana, uma de duas coisas aconteça: Kevin McCarthy não será o speaker da Câmara ou será o speaker a trabalhar para o prazer dos democratas", afirmou Gaetz. "E estou em paz com qualquer resultado, porque o povo americano merece saber quem os governa", salientou o parlamentar da Florida.
Minutos depois, McCarthy escreveu na rede social X (antigo Twitter) uma resposta ao congressista: "Venha". O líder da Câmara dos Representantes enfrenta contestações da linha mais dura do Partido Republicano desde que foi eleito "speaker", após 15 rondas de votação, em janeiro.
A moção de Gaetz foi motivada pela aprovação, no sábado, de uma medida provisória apresentada por Kevin McCarthy para manter o funcionamento do Governo do democrata Joe Biden por 45 dias. Apesar de o "speaker" ter apresentado propostas que agradam as demandas dos mais conservadores – um orçamento com cortes em diversas áreas, o que incluía deixar de fora o apoio militar à Ucrânia –, a ala mais à Direita do Partido Republicano queria paralisar as atividades governamentais de qualquer maneira.
A ação movida por Gaetz só ocorreu outras duas vezes na história da câmara baixa do Congresso norte-americano e falhou tanto em 1910 como em 2015. Na última tentativa, o republicano John Boehner sobreviveu no cargo sem ir a votos, mas acabou renunciando dois meses depois por conta da crescente contestação dentro do partido.
A moção, que deverá ser votada em até dois dias após ter sido apresentada, precisa de uma maioria simples para ser aprovada. O Partido Republicano tem atualmente 221 membros na Câmara, enquanto os democratas, que não se posicionaram sobre o tema, têm 212. McCarthy, que tentou agradar a ala mais extremista com o apoio ao processo de impedimento de Biden, agora poderá precisar dos "azuis" para salvar-se.
No entanto, setores mais progressistas do Partido Democrata são contra apoiar o líder da Câmara dos Representantes. A parlamentar Ilhan Omar, do Minnesota, escreveu que considera McCarthy "um speaker fraco que rotineiramente colocou o seu interesse próprio acima dos seus eleitores, do povo americano e da Constituição" e que este "assumiu como missão encobrir uma conspiração criminosa de Donald Trump e é ele próprio uma ameaça à nossa democracia".
Dentro do Partido Republicano, pelo menos quatro congressistas expressaram publicamente apoio à ação de Gaetz, com outros a sinalizarem uma abertura à ideia de depor McCarthy, segundo o "The New York Times". Já outras alas criticam a moção. "Imploro aos meus colegas republicanos que deixem de lado os seus preconceitos, as suas paixões, os seus erros de opinião, os seus interesses locais e as suas visões egoístas", instou o republicano da Califórnia Tom McClintock, citado pelo mesmo diário.
Histórico de conflito
Kevin McCarthy foi eleito "speaker" após 15 votações, a 7 de janeiro. Matt Gaetz, junto de outros 19 congressistas mais conservadores, votou contra na maioria das vezes, mas abstendo-se no final, o que permitiu que McCarthy conseguisse a vitória. Em troca, o novo líder da Câmara dos Representantes deu diversas concessões, como cargos em comissões, além de permitir que, no futuro, um único parlamentar poderia apresentar uma moção para retirá-lo do poder – o que aconteceu esta segunda-feira.
O clima entre o "speaker" e o setor republicano mais à Direita começou a piorar desde o fim de maio, quando McCarthy chegou a um acordo com Biden para aumentar o limite da dívida dos Estados Unidos. Nos últimos meses, Gaetz tem ameaçado levar o colega de partido a votos, mesmo que não tenha êxito na deposição.