Rishi Sunak completa um ano de mandato em Downing Street sob desconfiança do partido
O primeiro-ministro inglês, Rishi Sunak, completa, esta semana, um ano no número dez de Downing Street numa altura em se prepara para enfrentar dezenas de cartas de desconfiança escritas por deputados do Partido Conservador. A última sondagem aponta para uma desvantagem de 12 pontos para o Partido Trabalhista.
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Faz na quarta-feira, dia 25 de outubro, um ano que Rishi Sunak se tornou primeiro-ministro britânico. Este aniversário acontece num momento difícil para o Partido Conservador, que na semana passada perdeu as eleições intercalares em Tamworth e Mid Bedfordshire para o Partido Trabalhista. Além disso, a mais recente sondagem dá uma desvantagem de 12 pontos percentuais face aos trabalhistas, comandados por Keir Starmer.
Devido a estes desaires eleitorais, Sunak enfrenta a descrença de dezenas de deputados conservadores que estão a preparar cartas de desconfiança à sua liderança, avança o jornal britânico "The Sunday Times". O líder conservador está a ser pressionado para cortar impostos pela ala mais à direita do partido e, por outro lado, os membros mais moderados pedem-lhe para combater o aumento do custo de vida, escreve o "The Guardian".
Rishi Sunak é o terceiro primeiro-ministro em funções durante o atual mandato conservador, que começou em 2019. No ano passado, Boris Johnson, que era primeiro-ministro desde as últimas eleições, demitiu-se depois da polémica das festas em pleno confinamento e Lizz Truss ganhou a corrida para Downing Street. Contudo, Truss não teve tempo para aquecer o lugar, porque o seu mandato durou apenas 45 dias.
O período de Lizz Truss ficou marcado pelas propostas de cortes de impostos sem uma explicação sobre a forma como os mesmo seriam aplicados, o que gerou a desconfiança dos mercados e provocou uma crise económia e política. A fragilidade da liderança tornou-se tão grande que o jornal britânico "Daily Star" publicou mesmo um vídeo em direto, em que se podia ver uma alface ao lado de um retrato de Liz Truss e a pergunta "Truss consegue durar mais do que esta alface?". Alguns dias depois a resposta foi conhecida: a alface conseguiu agentar mais tempo do que a "nova dama de ferro".
Sunak prometeu "consertar os erros" da antecessora
No discurso que fez no dia em que o Rei Carlos III lhe deu posse, Sunak não teve problemas em admitir que a estratégia da sua antecessora não foi a melhor, mas reconheceu que Truss estava "certa em querer melhorar o crescimento económico" e prometeu "consertar os erros".
"Um NHS [equivalente ao SNS português] mais forte, melhores escolas, ruas mais seguras, controlo das fronteiras, proteção do meio ambiente, apoio às forças armadas e um equilíbrio e construção de uma economia que abrace as oportunidades do Brexit, onde as empresas investem, inovam e criam empregos" foram as promessas feitas por Sunak há quase um ano.
Na perspetiva do professor de Ciência Política da Universidade de Lancaster Mark Garnett, citado pela AFP, "existe a possibilidade de não conseguir cumprir nenhuma das cinco promessas". "A menos que as coisas mudem muito rápido, o segundo ano de Sunak como primeiro-ministro será provavelmente o último", defende Garnett
Doze meses recheados de polémicas
Depois do "terramoto político" provocado pelas festas envolvendo Boris Johnson durante a pandemia e do conturbado mandato de Liz Truss, as polémicas não pararam com Sunak.
Em janeiro, o executivo afirmou que ia invocar, pela primeira vez, o artigo 35.º da Lei da Autonomia da Escócia de 1998 para vetar a Lei de Reforma do Reconhecimento do Género - o artigo impede que as medidas aprovadas pelo parlamento escosês sofram interferência do governo geral. A reforma do reconhecimento de género previa uma redução da idade mínima para uma pessoa poder requerer um certificado de reconhecimento de género de 18 para 16 anos e a eliminação da necessidade de um diagnóstico médico.
Dias depois, mais um momento controverso. Rishi Sunak publicou nas redes sociais um vídeo a falar dentro de um carro em andamento sem usar o cinto de segurança. Depois de muita contestação pelos internautas, o governante pediu desculpa pelo sucedido.
Em março, o primeiro-ministro do Reino Unido anunciou uma medida que previa a deportação de migrantes ilegais que chegassem em barcos para o país de origem. A proposta gerou a indignação das organizações não-governamentais (ONG) que consideraram tratar-se de uma violação dos direitos humanos. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados afirmou que se tratava de "uma interdição de asilo" e uma "clara violação da Convenção relativa ao estatuto dos Refugiados". A ONG Asylum Aid e dez requerentes de asilo recorream ao tribunal e, em junho, conseguiram derrotar o executivo.
Em causa estava um acordo com o Ruanda, em abril do ano passado, em que o Governo britânico ignoraria os pedidos de asilo no próprio território e enviaria os requerentes para o país africano, onde estariam sujeitos a legislação ruandesa. O tribunal decidiu que a medida era ilegal, uma vez que existia o risco de os requerentes serem enviados de volta aos seus países de origem, "onde enfrentaram perseguições e outros tratamentos desumanos" e o Ruanda não foi considerado um "país terceiro seguro", com os magistrados a classificarem o sistema ruandês como "inadequado".
Em abril, o primeiro-ministro britânico ficou a saber que seria investigado por conflito de interesses em apoios atribuidos à empresa da mulher. O Comissário de Conduta Parlamentar, Daniel Greenberg, abriu um inquérito para perceber como se processou o apoio financeiro do governo à empresa Koru Kids na qual a esposa do governante tinha uma participação minoritária.
No mesmo mês, o vice-primeiro-ministro do Reino Unido, Dominic Raab, demitiu-se depois de um relatório independente concluir que terá cometido assédio laboral contra funcionários do executivo. Apesar da demissão, o visado argumentou que entre oito alegações só duas se confirmaram.
No mês passado, o período de regresso às aulas foi atribulado. O governo anunciou que cerca de 150 escolas iam abrir com constrangimentos graças à degradação do espaço físico. O executivo foi acusado de não investir na escola pública.
A 5 de outubro, Sunak proferiu declarações polémicas sobre a comunidade Trans, dizendo que as pessoas "não devem ser intimidadas a acreditar que as pessoas podem ser do sexo que quiserem. Não podem. Um homem é um homem, uma mulher é uma mulher". A jornalista trans India Willoughby reagiu na rede social x, antigo twitter, acusando o chefe do executivo de não reconhecer as pessoas trans.
Multimilionário e a primeira pessoa não branca à frente do Reino Unido
Rishi Sunak tem 43 anos, é neto de imigrantes indianos e foi a primeira pessoa não branca ser primeiro-ministro em Inglaterra. Estudou nas universidades de Stanford, nos EUA, e de Oxford, no Reino Unido, e trabalhou na Goldman Sachs. Além disso, é o político mais rico do país, com uma fortuna de mais de 700 milhões de libras (800 milhões de euros) .