A Duma, câmara baixa do parlamento russo, aprovou hoje uma lei que permite retirar o movimento talibã da lista de organizações terroristas, abrindo caminho para o seu reconhecimento pelo Kremlin (presidência russa).
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A lei, que foi enviada à câmara baixa no final de novembro, estabelece um novo mecanismo para levantar a proibição das atividades das organizações consideradas terroristas.
Tal dependerá de uma decisão judicial baseada na recomendação do gabinete do Procurador-Geral, desde que a organização renuncie a cometer, apoiar, promover ou justificar ações terroristas.
Nesse caso, a decisão judicial será enviada ao Serviço Federal de Segurança (FSB) para que este proceda às alterações correspondentes no registo das organizações terroristas.
No entanto, a lei prevê apenas um levantamento temporário da proibição, o que significa que a organização em causa pode ser novamente incluída nesta "lista negra" em caso de reincidência.
Recentemente, o presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Duma, Leonid Slutski, afirmou que a lei se destinava, entre outras coisas, a permitir a cooperação entre Moscovo e os talibãs, que regressaram ao poder no Afeganistão em agosto de 2021, dentro de um quadro legal.
No mês passado, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, considerou "muito importante" estabelecer contactos com as autoridades de Cabul.
Os planos de Moscovo para retirar os talibãs da lista de organizações terroristas foram confirmados pelo secretário do Conselho de Segurança russo, Sergei Shoigu, quando se reuniu com representantes do governo afegão em novembro.
Em outubro passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, também se reuniu com o chefe da diplomacia do governo provisório dos talibãs, Amir Khan Muttaqi.
Lavrov e Muttaqi manifestaram então a vontade dos dois países de estabelecer "relações políticas de confiança" que conduziriam a uma maior cooperação comercial bilateral.
Nos últimos anos, o presidente russo, Vladimir Putin, sugeriu em várias ocasiões que os talibãs poderiam ser retirados da lista de organizações terroristas, mas no passado chegou a condicionar essa retirada à aprovação da ONU.
A Rússia baniu e suspendeu contactos com os talibãs em 2003, embora tenha recebido representantes dos extremistas em várias ocasiões antes de estes terem tomado o poder em Cabul.
Desde então, os talibãs deslocaram-se várias vezes a Moscovo para participar em conferências sobre a resolução do conflito afegão, e o Kremlin convidou-os a participar no Fórum Económico de São Petersburgo e na cimeira do grupo de economias emergentes BRICS deste ano.