Rússia liberta jornalista americano após acordo para troca de prisioneiros com EUA
A Rússia e o Ocidente, nomeadamente os Estados Unidos, chegaram a acordo sobre uma importante troca de prisioneiros, que inclui a libertação de vários cidadãos norte-americanos como o jornalista Evan Gershkovich, avançaram esta quinta-feira os media norte-americanos.
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O acordo, que parece ser um dos maiores desde a Guerra Fria, inclui também a libertação do ex-fuzileiro Paul Whelan, segundo a estação televisiva CNN, enquanto o canal ABC refere que outros países ocidentais estão envolvidos na troca.
Acusado de espionagem, Evan Gershkovich, jornalista do The Wall Street Journal, está detido na Rússia desde março de 2023 e foi condenado em julho passado a 16 anos de prisão.
A Rússia há muito que está interessada em recuperar o seu cidadão Vadim Krasikov, que foi condenado na Alemanha em 2021 pelo assassinato de um antigo rebelde checheno num parque de Berlim, dois anos antes, aparentemente por ordem dos serviços de segurança de Moscovo.
Até ao momento, não houve qualquer confirmação por parte das autoridades norte-americanas e o Kremlin (presidência russa) recusou-se hoje a comentar o assunto.
"Ainda não tenho qualquer comentário a fazer sobre este assunto", disse o porta-voz presidencial, Dmitri Peskov.
Durante as últimas semanas, aumentaram as especulações sobre a iminência de uma grande troca de prisioneiros, depois de vários prisioneiros detidos na Rússia terem desaparecido das colónias penais onde cumpriam as respetivas penas, o que não é habitual.
Se esta troca de prisioneiros se concretizar, será a primeira entre Moscovo e o Ocidente desde a libertação, em dezembro de 2022, da jogadora de basquetebol norte-americana Brittney Griner, detida na Rússia por acusações de tráfico de droga, em troca da libertação do famoso traficante de armas russo Viktor Bout, preso nos Estados Unidos.
Ancara diz ter mediado troca
A Turquia informou hoje que coordenou uma troca de 26 prisioneiros entre a Rússia e vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos e a Alemanha.
"O MIT (serviços de informação turcos) realizou em Ancara a maior operação de troca de prisioneiros dos últimos tempos, que envolveu 26 pessoas de prisões de sete países diferentes (Estados Unidos, Alemanha, Polónia, Eslovénia, Noruega, Rússia e Bielorrússia)", anunciou a presidência turca em comunicado.
"Dez prisioneiros, incluindo dois menores, foram transferidos para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os Estados Unidos", especificou o comunicado.
"Os prisioneiros foram transportados para a Turquia em sete aviões, incluindo dois dos Estados Unidos, um da Alemanha, um da Polónia, um da Eslovénia, um da Noruega e um da Rússia, no âmbito da operação de troca de prisioneiros", acrescentou o comunicado.
Entre o lote de prisioneiros libertado, além de Evan Gershkovich, estão o ex-fuzileiro norte-americano Paul Whelan, preso na Rússia desde o final de 2018; Vadim Krassikov, um alegado agente russo preso na Alemanha pelo assassinato de um ex-comandante separatista checheno em Berlim em 2019; Rico Krieger, um alemão condenado na Bielorrússia por terrorismo; e o opositor russo Ilia Iachine, condenado no final de 2022 a oito anos e meio de prisão por ter denunciado crimes imputados à Rússia na Ucrânia.
No seu longo comunicado, a presidência turca sublinha que os serviços de informações turcos realizaram esta operação "desde o início do processo negocial até ao momento final em que ocorreram as trocas".
Durante semanas, aumentaram as especulações de que uma troca estava próxima devido a uma confluência de desenvolvimentos invulgares, incluindo um julgamento e condenação rápidos de Gershkovich, que Washington considerou uma farsa.
Também nos últimos dias, várias outras figuras detidas na Rússia por se manifestarem contra a guerra na Ucrânia, ou por colaborarem com o falecido líder da oposição russa Alexei Navalny, foram transferidas da prisão para locais desconhecidos.
Jornalista espanhol libertado
O jornalista espanhol Pablo González, preso há mais de dois anos na Polónia com a acusação de espionagem, foi também hoje libertado e enviado para a Rússia, onde nasceu.
O advogado de González acrescentou que as autoridades russas "demonstraram um interesse real em procurar uma solução para esta situação" e apelou à defesa "da liberdade de imprensa e dos direitos dos jornalistas a nível global".
Pablo González, de 41 anos, residente no País Basco (norte de Espanha), tem dupla nacionalidade (russa e espanhola) e foi detido na fronteira da Polónia com a Ucrânia em 2022, poucos dias depois do início do ataque militar da Rússia a este país.
O jornalista, que nasceu e viveu na Rússia até aos nove anos de idade, é colaborador de meios de comunicação espanhóis como o jornal Publico e a televisão La Sexta.
Organizações de defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, como a Repórteres sem Fronteiras ou a Amnistia Internacional, denunciaram por diversas vezes o caso do jornalista espanhol, sublinhando a falta de respeito pelo princípio da presunção de inocência por parte da Polónia, um país da União Europeia, ou que Pablo Gonzalez não tinha acesso a informação completa sobre a acusação de que era alvo.
Segundo o seu advogado, a libertação hoje do jornalista foi possível graças a "intensas negociações entre as partes envolvidas".
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, assegurou diversas vezes que acompanhava diretamente o caso de Pablo González e que tinha pedido ao homólogo da Polónia para serem apresentadas as provas contra o jornalista e para ser marcado uma data para o julgamento.
RSF "imensamente aliviada"
A organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras (RSF) declarou hoje estar "imensamente aliviada" com a possível libertação de Gershkovich. "Estamos imensamente aliviados por saber que a provação de 16 meses de Evan Gershkovich deverá finalmente chegar ao fim. Aguardamos ansiosamente a notícia do seu regresso em segurança aos Estados Unidos", declarou Rebecca Vincent, diretora de campanhas da RSF, em comunicado enviado à agência noticiosa francesa AFP.
Vincent acrescentou, porém, que os RSF continuam "profundamente preocupados com a detenção contínua de mais de 40 outros jornalistas na Rússia", incluindo a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva.