Rússia queima 10 milhões de euros por dia em gás com custos para ambiente e economia
A Rússia está a queimar grandes quantidades de gás que seria exportado para a Europa se não fosse a guerra na Ucrânia. Uma opção, que até pode ter justificações técnicas, mas que está a causar danos no ambiente e na economia mundial.
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O alarme foi dado por cidadãos finlandeses que vivem perto da fronteira com a Rússia e detetaram uma chama permanente na exploração de gás de Portovaya, a este de São Petersburgo, que fornecia gás para a Alemanha através do gasoduto Nord Stream 1.
Segundo um analista da Rystad Energy, a fábrica de Portovaya está a queimar cerca de 4,3 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Peritos ouvidos pelo canal público de televisão britânico BBC estimam que isso representa cerca de 10 milhões de euros por dia.
A queima incompleta de combustíveis fósseis, como petróleo ou o gás, produz partículas de carbono negro. As cerca de nove mil toneladas de dióxido de carbono e fuligem resultantes do que se passa em Portovaya preocupam os cientistas, que temem a aceleração do degelo do Ártico.
"A viagem de partículas de carbono negro para as latitudes do Ártico é particularmente preocupante, pois estas substâncias ficam depositadas na neve e no gelo e aceleram significativamente o degelo", argumentou Matthew Johnson, da Universidade de Carleton, no Canada.
"Estudos conceituados colocam a queima de gás como a principal fonte de deposição de carbono negro no Ártico pelo que o aumento verificado em Portovaya é particularmente preocupante", acrescentou Matthew Johnson, citado pela BBC.
Segundo o Banco Mundial, a Rússia é país número um na queima de gás. Mark Davis, diretor executivo da Capterio, uma companhia envolvida na procura de soluções para a queima de gás, acredita que o que se está a passar em Portovaya não é acidental. "Os operadores hesitam muito em fechar as instalações, temendo que seja tecnicamente difícil e caro reativá-las e provavelmente é o que se passa aqui", argumentou.
"Nunca vi uma fábrica de gás liquefeito (GNL) queimar tanto", observou Jessica McCarthy, especialista em análise de dados de satélite da Universidade de Miami. "Começou em junho, com um grande volume, que simplesmente não diminuiu. Continua anormalmente alto", acrescentou, também à BBC.
"Esta queima tão prolongada no tempo pode significar que têm falta de equipamento", argumentou Esa Vakkilainen, professor de engenharia da energia na Universidade de LUT. "Por causa do embargo comercial à Rússia, podem não estar a conseguir comprar válvulas de alta qualidade que são necessárias ao processamento do gás", aventou.
A Gazprom, que explora aquelas instalações, pode não ter capacidade para transformar o gás e GNL, optando pela queima, como a forma mais segura, não tendo como o armazenar. A empresa russa não respondeu aos pedidos de comentário.
"Enquanto as razões são desconhecidas, os volumes, as emissões e a localização da queima são uma lembrança visível do domínio da Rússia nos mercados energéticos da Europa", argumentou Sindre Knutsson, da Rystad Energy. "Não poderia haver sinal mais claro - a Rússia pode baixar os preços da energia amanhã", acrescentou aquele perito, também em declarações à BBC.
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A Rússia fornecia cerca de 40% do gás consumido na Europa, tendo como principal cliente a Alemanha. O fornecimento de gás através do Nord Stream 1 diminuiu a partir de meados de julho, com os russos a alegarem problemas técnicos e os germânicos a dizerem que é apenas uma manobra política do Kremlin na sequência da invasão da Ucrânia.
Desde fevereiro, quando a Rússia entrou na Ucrânia, os preços da energia subiram na Europa, arrastando também os custos de energias alternativas, acentuando um aumento que já vinha a notar-se com o fim dos isolamentos durante a pandemia.
Esta situação agravou de tal forma os custos da energia que a União Europeia determinou quotas para a redução do consumo e vários países estão a implementar medidas de poupança, como por exemplo a vizinha Espanha ou a poderosa Alemanha.