A Rússia anunciou, esta sexta-feira, a segunda convocatória militar de 2023, que incluirá pela primeira vez as regiões ucranianas de Kherson, Zaporijia, Donetsk e Lugansk, anexadas há um ano por Moscovo.
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O contra-almirante Vladimir Tsimlyansky, chefe da Organização e Mobilização do Estado-Maior russo, informou que a nova convocatória terá início a 1 de outubro e irá abranger todas as regiões do país, "incluindo as novas", aludindo às quatro regiões anexadas na sequência da invasão da Ucrânia em fevereiro do ano passado.
O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou esta sexta-feira o decreto que afeta 130 mil russos entre os 18 e os 27 anos. Tsimlianski tentou acalmar os temores de que os recrutas pudessem ser enviados para o campo de batalha, dizendo que não cumprirão serviço "nas novas regiões".
Além disso, tentou dissipar quaisquer preocupações relativamente a uma nova mobilização na Rússia, como a decretada em setembro do ano passado, ao salientar que o número de interessados em assinar contratos com as Forças Armadas e voluntários "é suficiente para cumprir as tarefas que lhe foram confiadas" na Ucrânia.
O anúncio de Moscovo foi feito na véspera do primeiro aniversário da anexação destas quatro regiões ucranianas, que não estão sob o controlo total das forças russas e são atualmente palco de batalhas sangrentas.
Petro Andriyushchenko, conselheiro do presidente da Câmara de Mariupol, cidade no sul do país ocupada pelo exército russo, alertou os residentes destas regiões que, "apesar das mentiras de Putin, é um facto comprovado que os recrutas também são enviados para a frente" de combate.
"Unidades voluntárias" para lutar na Ucrânia
Entretanto, o Presidente russo encarregou esta sexta-feira Andrei Troshev, antigo chefe de gabinete do grupo mercenário Wagner, de organizar "unidades voluntárias" para lutar na Ucrânia.
Durante vários meses de combates em Bakhmut, na região ucraniana de Donetsk (leste), o Ministério da Defesa russo evitou mencionar o Grupo Wagner nos seus relatórios de guerra, limitando-se a descrever os seus membros como "voluntários", num ambiente de tensões entre os líderes da organização de mercenários e as altas chefias militares russas.
O auge das tensões foi registado há três meses, quando os membros do Grupo Wagner organizaram um motim (que seria fracassado) contra a liderança militar russa e que foi liderado pelo seu líder, Yevgeny Prigozhin, morto em agosto num desastre aéreo a norte de Moscovo com outros elementos da cúpula da organização paramilitar.
Putin destacou a experiência do ex-chefe de gabinete do Grupo Wagner, que lutou durante mais de um ano neste tipo de unidades.
Segundo a Ucrânia, cerca de 500 antigos elementos do entretanto desmantelado Grupo Wagner regressaram à Ucrânia para lutar na linha da frente na cidade ocupada de Bakhmut.
"Só com coragem os drones não são parados"
A Ucrânia, por seu lado, optou esta sexta-feira, no primeiro Fórum Internacional da Indústria de Defesa, realizado em Kiev, por promover a coprodução de armas no seu território com os seus aliados ocidentais, de forma a continuar a cobrir as suas necessidades militares.
Este evento na capital ucraniana reuniu mais de 160 empresas de 26 países.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou esta sexta-feira, durante um discurso por videoconferência no evento, que "só com coragem os drones [aparelhos não tripulados] não são parados, só com heroísmo os mísseis não são intercetados", pedindo aos aliados ocidentais maior rapidez na produção de armas.
"A Ucrânia precisa de capacidades. De grande qualidade. Em grande quantidade. E rapidamente", afirmou, observando que muitos países da NATO viram os seus arsenais reduzidos nos seus esforços para ajudar Kiev.
Também esta sexta-feira, na capital ucraniana, os ministros da Defesa da Ucrânia e de França, Rustem Umerov e Sébastien Lecornu, acordaram avançar para a produção conjunta de armas, horas depois da alemã Rheinmetall ter anunciado a criação de uma empresa conjunta em Kiev para manutenção e reparação de equipamentos militares.