As autoridades de ocupação russas na região ucraniana de Kherson pediram, esta quinta-feira, a ajuda de Moscovo para organizar a retirada de civis do território anexado pela Rússia, em face da contraofensiva do exército da Ucrânia.
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"Dirijo-me à liderança do país, gostaria de pedir a vossa ajuda na organização deste trabalho. Nós, habitantes da região de Kherson, sabemos que a Rússia não abandona os seus, e a Rússia oferece sempre apoio onde há dificuldades", disse o chefe da administração regional de ocupação, Vladimir Saldo.
Numa mensagem vídeo divulgada na rede social Telegram, Saldo pediu que "todos os residentes da região de Kherson que desejem proteger-se dos ataques de mísseis [ucranianos] se possam mudar para outras regiões russas".
"Levem os vossos filhos e vão-se embora", recomendou o dirigente pró-russo, citado pelas agências francesa AFP e espanhola EFE.
Na mensagem, em que surge enquadrado com a bandeira russa, Saldo recordou que, no final de setembro, Kherson "fez a sua escolha" e confirmou no referendo "a decisão de se integrar na Rússia, de restaurar a justiça histórica e o que se perdeu ao longo dos últimos anos".
"Sabíamos que esta decisão não seria reconhecida pelas autoridades ucranianas e esperávamos que estas se vingassem. E foi isso que aconteceu, as cidades da região de Kherson são sujeitas a ataques diários com mísseis", disse.
Segundo o antigo deputado do parlamento ucraniano, que foi nomeado chefe de Kherson por decreto do Presidente russo, Vladimir Putin, "os ataques com mísseis causam sérios danos, antes de mais nada aos civis".
"Hotéis, casas, mercados, lugares onde muitos civis se reúnem, tornam-se alvos de mísseis", disse.
O exército ucraniano, que tem recebido armamento dos aliados ocidentais, iniciou recentemente uma contraofensiva que lhe permitiu recuperar parte do território sob controlo russo, incluindo nas regiões anexadas por Moscovo.
A anexação de Kherson, Donetsk, Lugansk e Zaporijia, que correspondem a 18 por cento do território da Ucrânia, foi decretada por Putin, em 30 de setembro.
A decisão seguiu-se a referendos considerados ilegais pela Ucrânia e seus aliados, realizados no meio da guerra que a Rússia iniciou em 24 de fevereiro deste ano, quando invadiu o país vizinho.
A Rússia já tinha anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014, também na sequência de um referendo realizado sob ocupação militar.
A Assembleia-Geral das Nações Unidas condenou, na quarta-feira, a anexação das quatro regiões e exigiu à Rússia que revertesse a decisão.
A resolução foi aprovada por 143 países, incluindo Portugal.
Rússia, Bielorrússia, Coreia do Norte, Nicarágua e Síria votaram contra e 35 países abstiveram-se, entre os quais a China.
A resolução, sem caráter vinculativo, foi aprovada pela Assembleia-Geral depois de a Rússia ter usado o seu direito de veto para impedir que o Conselho de Segurança da ONU se pronunciasse sobre a anexação dos territórios ucranianos.