Sacrifícios contra a Rússia: chefe militar diz que França deve "aceitar a perda dos filhos"

Fabien Mandon, chefe do Estado-Maior do Exército francês
Foto: Ludovic Marin/AFP
O chefe do Estado-Maior do Exército francês provocou, esta quinta-feira, controvérsia entre os extremos políticos ao defender que a França deve estar preparada para fazer sacrifícios, incluindo aceitar "a perda dos seus filhos", para enfrentar a Rússia.
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"Moscovo está convencida de que os europeus são fracos. E, no entanto, somos fundamentalmente mais fortes do que a Rússia", defendeu Fabien Mandon durante o congresso da Associação de Autarcas de França, numa intervenção que ganhou destaque mediático após críticas das forças mais extremistas à esquerda e à direita.
O general argumentou que a França dispõe dos meios necessários para dissuadir Moscovo, mas avisou que falta ao país "a força para aceitar o sofrimento na defesa da nação". "Se não estivermos preparados para aceitar a perda dos nossos filhos ou sacrifícios económicos, estaremos em risco", defendeu Mandon.
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O general francês pediu aos autarcas que divulgassem esta mensagem para que o país esteja "pronto, dentro de três ou quatro anos, para demonstrar a nossa força à Rússia e obrigá-la a abandonar as suas ambições".
Mandon alegou ainda que a França tem uma responsabilidade acrescida relativamente aos parceiros europeus, por possuir "um Exército de referência".
O chefe militar indicou como objetivo duplicar o número de reservistas para 80 mil, além dos 200 mil militares no ativo.
As declarações motivaram forte contestação política. Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa (LFI), disse estar em "total discordância" com Mandon, criticando que um militar convide autarcas "para exercícios que ninguém aprovou" ou antecipe "sacrifícios decorrentes de fracassos diplomáticos". Mélenchon aproveitou para perguntar ainda "onde está o presidente Emmanuel Macron" e porque permite tais declarações.
Também Sébastien Chenu, vice-presidente da União Nacional (extrema-direita), afirmou que Mandon "não tem legitimidade" para fazer tais apelos, a menos que Macron o tenha solicitado - cenário que, disse, "seria ainda mais grave".
A polémica coincidiu com a publicação pelo Governo de um "guia de sobrevivência" destinado a preparar a população para crises, incluindo conflitos armados, recomendando que cada cidadão tenha um kit básico para três dias, com lanterna, rádio a pilhas, documentos essenciais, roupa quente, água quente e cobertor.
A ministra da Defesa, Catherine Vautrin, saiu em defesa do general, afirmando que Mandon "tem todo o direito de falar das ameaças" enfrentadas pelo país, argumentando que as declarações do general foram "retiradas do contexto para fins políticos" e refletem a linguagem própria "de um líder consciente de que jovens soldados arriscam a vida todos os dias pela Nação".
