A jantar ao lado de Donald Trump ou a acompanhar o marido numa visita ao Pentágono, o papel de Sara Netanyahu gerou questões sobre o seu lugar na política israelita. A terceira mulher do primeiro-ministro e mãe de dois dos seus filhos tem sido notícia pelo seu alegado envolvimento nas decisões políticas do marido.
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"A minha mulher e eu..." é uma frase frequentemente utilizada pelo primeiro-ministro israelita nas suas declarações oficiais, ajudando a consolidar a posição de Sara na vanguarda da vida pública.
Esta semana, enquanto o primeiro-ministro visitava Washington para uma série de reuniões de alto nível nas quais discutiu um possível acordo de cessar-fogo em Gaza com o presidente dos EUA, a sua mulher esteve notavelmente presente.
Na terça-feira, foi fotografada sentada ao lado de Trump num jantar oficial após uma reunião entre os dois líderes. Dois dias depois, apareceu ao lado do marido, bem como do secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, e da sua mulher, Jennifer Rauchet, quando chegaram para reuniões no Pentágono.
Mas as especulações já fervilhavam ainda antes da partida de Netanyahu para Washington. Na véspera da viagem, o gabinete do primeiro-ministro anunciou a demissão do seu porta-voz, Omer Dostri. Poucas horas depois, após reportagens na comunicação social alegando que a sua mulher estaria envolvida na decisão, foi emitida outra declaração a negar qualquer envolvimento da mesma.
Sara Netanyahu tem sido alvo de várias investigações, incluindo por corrupção, fraude e abuso de confiança, tendo sido também interrogada no âmbito do julgamento de corrupção em curso contra o seu marido.
Casada com Benjamin Netanyahu desde 1991, a mulher de 66 anos é alvo de frequentes ataques mediáticos, que são regularmente denunciados pelo marido. Foi caricaturada em programas satíricos pelas suas escolhas de moda ou pela sua profissão como psicóloga infantil, da qual se gabava frequentemente.
"A verdadeira primeira-ministra"
No entanto, acima de tudo, Sara Netanyahu tem sido alvo de críticas pela sua alegada interferência em assuntos de Estado. Num vídeo divulgado em dezembro de 2024, o primeiro-ministro negou que a sua mulher estivesse envolvida nas suas nomeações para o gabinete ou que tivesse acesso a segredos de Estado.
Isto aconteceu após uma investigação sobre Sara Netanyahu, transmitida pelo "Canal 12" de Israel, que o primeiro-ministro criticou como uma "caça às bruxas". Em 2021, um antigo alto funcionário disse ter visto um contrato assinado pelos Netanyahu que estipulava que Sara teria uma palavra a dizer na nomeação dos chefes de segurança israelitas. A esta alegação, o gabinete do primeiro-ministro respondeu com uma breve declaração denunciando "uma completa mentira".
O funcionário perdeu um processo por difamação movido contra si pelo advogado dos Netanyahu.
Quando o primeiro-ministro nomeou David Zini como o novo chefe do serviço de segurança israelita Shin Bet, em maio, os jornalistas israelitas voltaram a apontar a possível influência de Sara Netanyahu, que se acredita ser próxima da comitiva de Zini.
Quase dois anos após o início da guerra de Israel contra o Hamas em Gaza, Sara Netanyahu parece ter-se afirmado como mais indispensável do que nunca, havendo mesmo quem lhe atribuindo uma influência crescente em questões estratégicas.
Em maio, quando Sara Netanyahu corrigiu o número de reféns vivos em Gaza fornecido pelo seu marido durante uma reunião gravada com as famílias dos reféns, surgiram especulações de que teria acesso a informações confidenciais.
O jornalista e biógrafo de Netanyahu, Ben Caspit, chegou mesmo a descrever Sara Netanyahu como a "verdadeira primeira-ministra". "Tornou-se do conhecimento público. É parte integrante das nossas vidas. Estamos a normalizar o facto de alguém ter desmantelado a liderança do Estado em favor de uma gestão caótica e familiar", escreveu Caspit num artigo de opinião publicado no site do jornal "Maariv".
Em entrevista à agência de notícias norte-americana "Fox News", na quarta-feira, Netanyahu descreveu a mulher como uma "parceira maravilhosa" e elogiou a sua ajuda ao longo dos anos.