"Se escolheres ficar, vais morrer". Florida ordena saída de milhões antes de chegada do furacão Milton

Milhares estão em fuga após recebrem ordem de saída
Foto: Cristibal Herrera-Ulashkevich /EPA
O estado da Florida prepara-se para que o furacão Milton, no Golfo do México, atinja a região da baía de Tampa, no oeste, na noite desta quarta-feira. Mais de 5,5 milhões de pessoas estão sob ordens de retirada obrigatória ou voluntária.
Milhares de norte-americanos estão a sair de carro das zonas costeiras desde segunda-feira, com as estradas a terem um tráfego 150% acima do normal, segundo o governador Ron DeSantis. As portagens estão suspensas e as estradas lotadas contrastam com as cidades que se tornaram fantasmas.
Com cerca de 6500 habitantes, a cidade de Treasure Island, nos arredores de Tampa, está vazia. O autarca Tyler Payne, em entrevista à CNN, disse estar feliz pela população ter cumprido as ordens de evacuação e reiterou que não é seguro permanecer na ilha. No mesmo canal, a mayor de Tampa, Jane Castor, foi categórica: "Se escolheres ficar, vais morrer".
Mark Feinman, ouvido pela agência Reuters, disse que demorou 13 horas para fazer a viagem de 805 quilómetros entre São Petersburgo e Pensacola, já próximo do Alabama. O músico de 38 anos relatou que alguns condutores utilizavam as bermas e os separadores de relva, provocando acidentes.
Diversos condutores esperaram em filas para encher os depósitos de combustível, mas algumas bombas já estão vazias. DeSantis assegurou, no entanto, que a polícia do estado está a realizar escoltas para que os camiões possam reabastecer os postos.
O furacão Milton, que na terça-feira chegou a perder força e caiu para a categoria quatro, voltou a alcançar o nível cinco, com ventos de 257 quilómetros por hora - capazes de destruir muitos prédios e cortar grandes estradas. De acordo com o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês), o fenómeno desloca-se numa velocidade de 22 quilómetros por hora.
A hora de chegada prevista da tempestade é entre as 21 horas locais de hoje ( 1 hora em Portugal continental) e a madrugada de quinta-feira. Já pela manhã, o furacão deve diminuir de categoria enquanto cruza pela parte central da Florida, nos arredores de Orlando.
O NHC alerta que "as chuvas fortes em toda a península da Florida até quinta-feira trazem o risco de inundações repentinas e urbanas catastróficas e potencialmente fatais, juntamente com inundações fluviais moderadas a grandes, especialmente em áreas onde as inundações costeiras e interiores se combinam para aumentar a ameaça geral de inundações".
Autoridades reforçam meios de salvamento
Com a expectativa de que as águas possam subir até entre 3 e 4,5 metros, Tampa prepara diversas medidas de contenção. O Hospital Geral da cidade, localizado junto à baía, instalou barreiras contra inundações ao redor das instalações. Um total de 4636 prisioneiros foram realocados pelas autoridades da Florida.
A base aérea MacDill também foi alvo de ordens de evacuação. "O pessoal-chave foi disperso por três locais alternativos (para além do escritório a tempo inteiro no Pentágono), garantindo a não degradação das operações. Neste momento, a nossa prioridade é a segurança do nosso pessoal e das suas famílias", afirmou a porta-voz e tenente-coronel Allie Weiskopf.
A Guarda Nacional da Florida mobilizou mais de cinco mil membros para os esforços de recuperação após a chegada do furacão, anunciou Washington. A porta-voz do Pentágono Sabrina Singh disse que o Exército "está a preparar veículos de resgate em águas altas, helicópteros para operações de busca e salvamento", assim como apoio às "equipas de busca e salvamento e helicópteros de médio porte para a movimentação de pessoal e equipamento que também podem fornecer comando, controlo e apoio às forças do Departamento de Defesa dos Estados Unidos".
Tendo sido a depressão tropical mais rápida a atingir a categoria cinco de furacão, em menos de 48 horas, o fenómeno poderá ser a maior a atingir a região num século. Segundo a NASA, "a rápida intensificação para a categoria cinco foi alimentada por água anormalmente quente no Golfo do México", que destacou ainda que "o aquecimento causado pelos humanos está associado a furacões mais fortes e de intensificação mais rápida".
O furacão Milton surge poucos dias depois do devastador Helene, que matou pelo menos 236 pessoas - o mais mortal desde o Katrina - em seis estados, incluindo 20 na Florida. A recuperação, principalmente da Carolina do Norte, estado mais afetado pela tempestade, é dificultada pelas condições do terreno, das estradas e pelas teorias da conspiração - cenário que pode repetir-se agora na Florida.
