"Se havia alguma criança sozinha no quarto, voltava lá". Ex-cirurgião francês explica abusos sexuais
O ex-cirurgião Joël Le Scouarnec confessou, esta terça-feira, perante um tribunal do oeste da França, que "propiciava as ocasiões" para abusar sexualmente dos seus pacientes, frequentemente menores, e descreveu o "modus operandi" do que, segundo ele, eram "gestos furtivos".
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"Visitava [os pacientes] com uma enfermeira e, quando ela deixava o seu posto, se eu tivesse visto que havia alguma criança sozinha no seu quarto, eu voltava" lá, afirmou. Segundo ele, "uma única vez" sedou uma vítima, que não faz parte das 299 que integram o processo que está a ser julgado num tribunal de Vannes desde 29 de fevereiro.
"Tenho uma memória, foi em Vannes. [Alguns pais] reclamaram que eu ia muitas vezes ao quarto da filha. Obviamente, neguei", declarou Joël Le Scouarnec durante um longo interrogatório, que se concentrou especialmente nos cadernos e arquivos nos quais anotava meticulosamente as agressões sexuais que supostamente cometeu.
O ex-médico afirmou que o que constitui uma "fantasia" foi escrito "na condicional" e o que aparece "no presente" podem ser atos "puramente médicos, mas sobre os quais fantasiei, ou atos que realmente cometi e que reconhecerei".
Questionado sobre como diferenciar uns dos outros, o acusado respondeu: "A única pessoa que pode lhe dar as explicações sou eu". A esta resposta, a juíza Aude Buresi contrapôs que, dessa forma, o suspeito mantém "o poder".
Le Scouarnec enfrenta 111 acusações de violação e 189 de agressão sexual, crimes que teriam sido cometidos entre 1989 e 2014, agravadas pelo facto de que se aproveitou da sua posição de médico e de que as vítimas eram maioritariamente menores de 15 anos (256 de 299). O ex-cirurgião já está preso por uma condenação de 2020 por crimes similares contra quatro crianças, entre elas uma vizinha e duas sobrinhas.