A adição de flúor na água potável corre o risco de ser reduzida drasticamente nos EUA, após o secretário de Saúde norte-americano, Robert F. Kennedy Jr., expor, na segunda-feira, os planos para cessar tal procedimento nas comunidades. Enquanto isso, o país registou a terceira morte relacionada com um surto de sarampo.
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Considerada um dos principais avanços na Saúde pública do último século, a fluoretação contribuiu para a redução da cárie dentária em mais de 25% em crianças e adultos, segundo a American Dental Association. Apesar disso, o responsável pela tutela da Saúde dos Estados Unidos anunciou que quer que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) deixe de recomendar tal prática às comunidades locais de todo o país.
Robert F. Kennedy Jr. (RFK) revelou ainda à agência Associated Press (AP) que vai criar uma task force para avaliar a questão e fazer novas recomendações. As declarações ocorreram num evento em Salt Lake City, no Utah, que se tornou o primeiro estado norte-americano a banir a adição de flúor, no final de março – com a medida a entrar em vigor a 7 de maio.
Ao lado de RFK estava o chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), Lee Zeldin. Enquanto o CDC pode recomendar ou não a fluoretação na água, os estados e Governos locais decidem se cumprem tal medida, com a EPA a regular o limite de quanto da substância pode ser adicionada. O máximo imposto por tal entidade é de quatro miligramas por litro – mesmo que o CDC recomende até 0,7 miligramas por litro.
Zeldin, citado também pela AP, afirmou que a EPA está a reavaliar os estudos científicos sobre o tema. “Quando esta avaliação estiver concluída, teremos uma avaliação científica fundamental atualizada que informará as medidas futuras da agência”, pontuou. “O secretário Kennedy está há muito tempo na linha da frente desta questão. A sua defesa foi fundamental para a nossa decisão de rever os riscos de exposição ao flúor, e estamos empenhados em trabalhar com ele, utilizando ciência sólida à medida que avançamos na nossa missão de proteger a saúde humana e o ambiente”, acrescentou.
A adição de flúor é apoiada pelas autoridades federais dos EUA desde a década de 1950 para fortalecer os dentes e reduzir as cáries, com orientações sobre a quantidade a ser colocada na água potável implementadas em 1962. Tornando-se a principal fonte da substância, a água fluoretada é distribuída para cerca de dois terços da população do país, de acordo com dados do CDC.
RFK é conhecido por discursos conspiracionistas contra as vacinas e contra a fluoretação da água, classificando o flúor como uma “neurotoxina perigosa” e um “resíduo industrial”. Apesar de investigações associarem a presença de flúor com manchas nos dentes e com impacto no desenvolvimento cerebral, tais situações estão ligadas à ingestão excessiva – muito acima do valor recomendada pelo CDC. Além disso, muitos estudos são questionados pelo meio académico devido às metodologias ou porque conclusões definitivas não podem ser inferidas.
Três mortos não-vacinados
Um surto de sarampo no Sudoeste dos Estados Unidos já infetou 595 pessoas nos estados do Texas, Novo México, Oklahoma e Kansas, com três mortes tendo sido registadas. Duas crianças, de seis e oito anos, morreram no Texas, com um dos óbitos confirmado este mês e o outro no final de fevereiro – que se tornou a primeira vítima mortal da doença em quase uma década nos EUA. Um adulto faleceu, no último mês, no Novo México, numa morte relacionada com o sarampo, considerou o CDC. Os três não estavam vacinados.
Contradizendo o discurso antivacinas pelo qual ficou conhecido, Kennedy publicou no domingo uma mensagem, após visitar o epicentro da crise, apelando à vacinação. “A forma mais eficaz de prevenir a propagação do sarampo é a vacina tríplice viral. Falei com o governador Abbott e ofereci o apoio contínuo do Departamento de Saúde. A seu pedido, realocámos equipas do CDC para o Texas. Continuaremos a seguir o exemplo do Texas e a oferecer recursos semelhantes a outras jurisdições afetadas”, escreveu.
Mesmo provocando a ira de apoiantes antivacinas, RFK não esqueceu de promover terapias alternativas sem comprovação científica contra o sarampo, como o uso de budesonida – usada para a asma – e da claritromicina – antibiótico inadequado para infeções bacterianas secundárias ao sarampo. “Ambas as coisas não têm valor”, salientou Paul Offit, diretor do Centro de Educação sobre Vacinas do Hospital Infantil de Filadélfia, à rádio pública norte-americana NPR. “Este é um surto massivo que não está a ser controlado", destacou.
“Este lamentável acontecimento sublinha a importância da vacinação”, declarou o porta-voz do centro hospitalar universitário UMC Health System, Aaron Davis, citado pela agência France-Presse, ao reportar a segunda morte de um menor por sarampo, no Texas. “Incentivamos todos os indivíduos a manterem as suas vacinas em dia para se protegerem a si e à comunidade em geral”, completou.